Doação sem medida
Pe. Haroldo J. Rahm, SJ

Julho com Inácio de Loyola
Trigésimo dia
Deus dota cada homem de acordo com o que dele espera, ou melhor, espera que cada um o ame, sirva e glorifique, e alcance a santidade com tudo aquilo que lhe foi dado pelo Criador e por sua natureza própria. Uma natureza certamente decaída, carregada de tendências prementes, nem sempre favoráveis. Mas é com ela que cada um realiza a sua santificação e cumpre a sua missão específica no mundo. A doação no amor não é somente consolo e alegria, embora possam subsistir. como já consideramos, na luta e na desolação. Sem estas não há santidade possível.
Porque o caminho não é fácil, Inácio, cuja experiência e observação de si mesmo levou a um fino conhecimento dos homens, põe o amor em primeira linha: o amor que não mede e que decide o que quer. Ele é o homem da decisão, e com isso também do discernimento: optar sempre pelo que mais favorece o amor e o serviço; não qualquer serviço, mas o melhor e o maior. É isso que quer comunicar aos seus homens e é o que deles espera. Ele sabe muito bem que “não é apto para o Reino de Deus”, nem para nele trabalhar com afinco, “quem põe a mão nó arado e olha para trás” (Lc 9,62), hesitando, medindo o que quer.
Exige dos seus homens o que exigiu de si mesmo. Não, ele não olhou para trás. Sua trajetória, através das muitas peripécias e obscuridades do seu caminho, seguiu sempre em linha reta. Se pareceu desviar-se, foi sempre em seguimento da sua estrela… Humilde, da humildade dos santos que sabem o que são perante Deus, ignora a sua própria grandeza. Contemplando o céu que sempre o deslumbrava, quantas vezes lhe terão vindo à mente as palavras do Salmo 8:
Senhor, quando me extasio a olhar o céu estrelado, quando contemplo as noites de luar, e penso que foste tu que tudo criaste, eu me pergunto: Que é homem, para estar assim na tua lembrança…
Idealizando o superior geral da Companhia de Jesus, nas Constituições, não sonhou por um instante ser ele próprio o homem certo no lugar certo…
… dotado de grande inteligência e juízo, para que não lhe falte talento para as questões especulativas, nem para as questões práticas que ocorrerem. A ciência é, de certo, bem necessária a quem tem tantos homens instruídos a seu cargo. Todavia, ainda mais necessárias lhe são a prudência e a experiência nas coisas espirituais e interiores, para discernir os diversos espíritos, para dar conselho e remédio a tantas pessoas em seus problemas espirituais. Também lhe é muito necessário a prudência dos negócios exteriores, e na maneira de tratar questões tão diversas, e de lidar com homens tão diferentes, quer na Companhia, quer fora dela.
Constituições, 729
Deus nos dá o que quer de nós, mas espera que queiramos dar-lhe o que ele quer.
Senhor, que posso dizer ante o exemplo dos santos, a não ser: eis-me aqui, meu Deus, para o que quiseres.
Não me deixes morrer sem ter feito todo o bem que devia fazer, sem ter te dado toda a glória que devia dar.
E para isso, aceito tudo o que quiseres de mim!
RAHM, Haroldo J. Inácio de Loyola: um leigo de oração. São Paulo: Loyola, 1989. 68 p. p. 65-66.
JULHO COM INÁCIO DE LOYOLA
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