Prova de fogo
Pe. Haroldo J. Rahm, SJ

Julho com Inácio de Loyola
Décimo segundo dia
A alma dos santos permanecerá sempre um mistério para nós. O que é certo é que não se santificaram sem luta. E que luta tremenda, mesmo para aqueles que nos aparecem como tendo vivido em paz, sem maiores tropeços. É que sem a cruz não há seguimento possível do Senhor crucificado por nós. Não podemos estranhar, portanto, a luta em nossa própria vida.
Em Manresa, Inácio passou pela prova de fogo. Experiência extremamente dolorosa, beirando o desespero, mas que contribuiu de modo decisivo para a formação do mestre espiritual, profundamente esclarecido, que ele foi.
Nos Exercícios Espirituais ele pedirá que se imagine “o chefe de todos os inimigos… como ele procede ao chamamento dos demônios e como os espalha pelo mundo inteiro para acorrentar o homem”. Por outro lado, pede também que se imagine “Cristo nosso Senhor, num lugar humilde, belo e gracioso… como ele escolhe todos esses homens, apóstolos, discípulos, e os envia ao mundo inteiro para ajudar todos os homens”.
A oposição entre os métodos de Cristo e do inimigo é gritante. Isso porque Inácio tudo experimentou em sua própria carne. Visões consoladoras o levaram ao desânimo e ele compreendeu que o inimigo pode se transtornar em “anjo de luz”, ir mesmo “no sentido da alma fiel” para acabar levando-a à perdição. Ele é astuto e traiçoeiro. Infiltra-se nos nossos pensamentos de tal forma que muitas vezes sua “cauda de serpente” só é reconhecida quando o mal já está feito.
Deus esperava demais de Inácio para que o inimigo não o assaltasse do modo mais cruel. Tremendas são as tentações que o atormentam; o fervor parece esmorecer, inquieta-se com “o que será?…”, perde o gosto da oração, não se sente mais senhor de si, receia não mais se pertencer. Trevas, depressão, perturbação da mente, atrativo para o que é baixo e terrestre, náusea, abandono, separação do seu Senhor.
Caminho normal dos santos, caminho que deverá ser o nosso, na medida de nossa fraqueza e de nossa vocação própria. Jesus teve a sua agonia. Inácio não foi poupado. “Outro te cingirá e te conduzirá aonde não queres” (Jo 21,18). Assim falou Jesus a Pedro. Inácio tem que aprender que a vontade de Deus nem sempre será a sua, que os caminhos de Deus nem sempre serão os dos seus projetos. Deve compreender ainda que nada pode por si mesmo, mas que tudo pode naquele que o fortalecerá (Fl 4,13). E tudo isso é também para nós. As vivências de Inácio serão luz para muitos.
Meu Senhor Jesus Cristo,
sei que és o meu escudo, que me defende contra todo o mal.
Nas minhas trevas e desolações faze-me entender que a tua luz está no meu coração, e que, na força do teu Sangue, não há tentação que nos possa separar.
RAHM, Haroldo J. Inácio de Loyola: um leigo de oração. São Paulo: Loyola, 1989. 68 p. p. 29-30.
JULHO COM INÁCIO DE LOYOLA
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