Às margens do Cardoner

Pe. Haroldo J. Rahm, SJ

Julho com Inácio de Loyola

Décimo sétimo dia

De profunda ressonância espiritual foi a iluminação com que Inácio foi favorecido às margens do rio Cardoner, não longe de Manresa. Ele se dirigia para a igrejinha de São Paulo Eremita. Sentou-se à beira do rio e foi aí que se deu a ilustração, experiência mística que foi como a síntese de todas as ilustrações anteriores.

Com maior clarividência ainda, Inácio vivenciou — tal foi a intensidade da representação interior — a criação do universo pelo Verbo divino. Mais uma vez entendeu como tudo vem de Deus que age continuamente na criação, e tudo volta para Deus, sua origem, pelo Verbo encarnado, Jesus Cristo nosso Senhor. Para ele tudo converge. Deixemos que o Santo diga, ele próprio, o que então se passou:

… sentou-se um pouco, virado para o rio que corria fundo.
E estando ali sentado, começaram a abrir-se-lhe os olhos do entendimento; e não que visse alguma visão, senão entendendo e conhecendo muitas coisas, tanto de coisas espirituais, como de coisas da fé e das letras. E isto com uma ilustração tão grande, que todas as coisas lhe pareciam novas.

E não se podem declarar os particulares que então entendeu, ainda que foram muitos, senão que recebeu uma grande claridade no entendimento, de tal modo que em todo o decurso da sua vida, até aos sessenta e dois anos, coligindo todas as ajudas recebidas de Deus, e todas as coisas que soube, ainda que as junte todas, não lhe parece ter alcançado tanto como daquela só vez.

Nisto ficou com o entendimento de tal modo ilustrado, que lhe parecia como se fosse outro homem e tivesse outro entendimento diferente do que tinha antes.

Autobiografia, 30

Essa percepção e vivência do mistério de Deus criador, e da relação do homem com ele, e tantas “coisas relativas à vida espiritual”, deram a Inácio uma nova mentalidade completamente orientada para o serviço do único Senhor do Universo. Mais uma vez se tornou clara para ele a relação entre os grandes mistérios da fé: Deus uno e trino, sua obra criadora, a Encarnação do Verbo divino, a Eucaristia, a finalidade do mundo em que vivemos, o lugar do homem no universo criado por Deus e o sentido de sua existência.

Se não temos a iluminação do Santo acerca dessas realidades vitais para nós — o “único necessário” de que Jesus falou a Marta (Lc 10,42) –, devemos pelos menos tê-las muito presentes em nosso pensamento, em nossa vida. São talvez realidades que mal afloram à superfície de nossa alma, enquanto nos deixamos inteiramente seduzir pela “figura deste mundo” que passa (1 Cor 7,31). No entanto, são para o homem, em toda a verdade, questão de vida ou de morte.

Conhecer o amor de Deus na criação e na redenção – e para isso crer em Deus e em seu amor –, e conhecer o sentido de nossa existência em relação a esse amor, eis tudo para o homem. Tudo, para o homem sensato, responsável, de coração aberto, que reconhece o seu nada em relação ao Tudo, e que quer pagar amor com amor.

Senhor Jesus,
eu te peço a luz e a força do teu Espírito para ser essa pessoa:
sensata, responsável, de coração aberto, firmada na humildade,
e que quer responder ao amor com amor.


RAHM, Haroldo J. Inácio de Loyola: um leigo de oração. São Paulo: Loyola, 1989. 68 p. p. 39-40.

JULHO COM INÁCIO DE LOYOLA

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