Noite e alvorada

Pe. Haroldo J. Rahm, SJ

Julho com Inácio de Loyola

Décimo terceiro dia

Foi dura, mas necessária, a prova de Inácio. Também na nossa vida, quantas provações duras e também necessárias! Quando passamos pelo sofrimento ficamos cegos e caímos no abatimento. Mais tarde nos apercebemos que esse foi para nós um período de graça, preparatório para maiores graças ainda.

Inácio atravessa o tenebroso túnel da solidão. Sente-se separado de Deus e de tudo. Que vale ele? Que pode sozinho? No entanto, uma força que não é a sua o acompanha e sustenta. Sabe que entrou num caminho do qual não deve recuar. Multiplica então as orações, os jejuns, as penitências.

O inimigo quer levá-lo ao desespero, à autodestruição. Está verdadeiramente à beira do abismo. No entanto, algo se arraigou profundamente em seu coração. Continua um coração apaixonado. E o medo de ofender o Amado o retém. É então que se lança perdidamente nos braços do Senhor e se rende incondicionalmente. As criaturas não o podem ajudar. Deus sim! E, firmado na humildade, ele se ergue. Como sempre, recolhe em sua memória o tormento e a angústia desses dias, para que nos seus Exercícios Espirituais venham a servir de orientação e apoio para muitos.

Inácio está nas mãos de Deus, mais do que nunca resolvido a servi-lo e a dar-lhe a vida, custe o que custar.

Voltam então a luz e a serenidade ao seu espírito. A profunda desolação floresce em consolação. O Senhor o ilumina e instrui, tratando-o, como ele mesmo diz, “como um mestre-escola trata uma criança: ensinando-a”. É a primavera da graça que sucede ao temível inverno. Ele dirá, nos Exercícios, que “o Criador e Senhor se comunica a si próprio à alma fiel, envolvendo-a no amplexo do seu amor e louvor, e depondo-a no caminho em que ela o poderá servir melhor em seguida”.

Não há dúvida que Inácio recebeu inefáveis comunicações de Deus nesse período. Foi-lhe dado então entender, intuir, coisas profundas, provavelmente sobre si mesmo, sobre a situação do homem perante o Criador, sobre o Amor infinito que quer elevar a criatura até si. E muito mais.

O que é certo é que o que lhe foi dado ver fez dele — é ele quem fala — “um outro homem, um outro espírito”. Talvez sem que o soubesse, já o livrinho dos Exercícios Espirituais estava em gestação em sua mente e em seu coração.

Deus de Bondade,
eu te agradeço pelo muito que dás ao mando através de teus santos.
Que eu também possa nada recusar ao teu amor, para que te possas servir de mim para dar ao mundo tudo que esperas de mim.


RAHM, Haroldo J. Inácio de Loyola: um leigo de oração. São Paulo: Loyola, 1989. 68 p. p. 31-32.

JULHO COM INÁCIO DE LOYOLA

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1 comentário Deixe um comentário

  1. Os exercícios espirituais , hoje, nos ajudam nos momentos de provações, perseguições, falsos testemunhos que nos impõem a carregar em nossos ombros. Não diferente nestes tempos , pois quem nos sustenta é Deus na sua infinita misericórdia. Estes exercícios espirituais nos ajudam a modelar o nosso eu, ao ponto de nos silenciar na provação. É difícil, porém, com a ajuda do Senhor, podemos andar sobre espinhos e víboras pois a sua graça é mais poderosa que qualquer maldade imposta sobre nossos ombros.

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