Avós do Menino Deus
Simone Furquim Guimarães
A leitura de hoje é Mt 1,1-17 que trata sobre a origem de Jesus Cristo. Quem foram os antepassados de Jesus? Aqui, eu proponho olhar este texto na ótica das mulheres para destacarmos nesta origem quatro avós de Jesus, mulheres que não foram nada ortodoxas. Precisamos fazer como o Evangelho de Mateus, precisamos resgatar o valor destas mulheres.
Tamar, era estrangeira, era cananeia. Foi rejeitada pelos filhos de Judá. Naquela sociedade, a mulher viúva e sem filhos estava fadada a miséria e fome, perdia tudo. Para garantir seu direito prescrito pela Lei de divina (cf. Dt 25,5-6), ela precisou agir de forma nada convencional ou ortodoxo para garantir sua justiça. Tamar se passou por prostituta para ter um filho com o seu sogro Judá. Esta criança vai herdar o nome do falecido e vai manter os bens da família. Judá reconhece na ação de Tamar a prescrição da Lei de Deus e diz que ela foi mais justa do que todos. Leiam toda a história em Gênesis 38.
Outra avó de Jesus é Raab, também estrangeira cananeia, prostituta e marginalizada. Ela torna-se modelo de fé, coragem, acolhimento e hospitalidade. Ela desobedece a ordem do rei de Jericó e professa a fé em Deus, pois acredita em seu projeto de vida. Ela salva o povo de Deus desde a sua entrada na terra prometida. Leiam Josué 2.
Rute também é estrangeira moabita. E, ao professar a fé no Deus de sua sogra Noemi, ela assume o projeto de Deus, que é de justiça, de resgate a terra dos pobres. Como Tamar, Rute garante a terra e o nome para Noemi ao se casar com o parente mais próximo Boaz, como garante a lei de Deus (cf. Dt 25,5-6). Rute é modelo de fé no projeto de Deus.
Betsabéia, citada na genealogia de Jesus, também é estrangeira, foi vítima de violência por estupro pelas mãos do rei Davi; foi vítima por perder o amor da sua vida, seu esposo, assassinado pelo rei Davi. Naquele tempo, uma mulher viúva deve ter novo casamento senão cai na marginalização. Ao casar com o rei, ela garante sua vida com dignidade e dignidade para seu filho. Os pecados de Davi foram denunciados pelo profeta Natã, em sua parábola (cf. 2Sm 12,1-4): ao mesmo tempo que desmascarou o rei, inocentou Betsabéia, retratando-a como a ovelha do pobre que foi tomada sem escrúpulo e servida como jantar.
A geneologia de Jesus, na ótica de nós mulheres, abre nossos olhos para enxergar o projeto de Deus para nós. Todas essas mulheres, que antes eram marginalizadas pela sociedade, foram resgatadas e justiçadas pela história bíblica. Ao serem inseridas na genealogia de Jesus, demonstra seu reconhecimento e o projeto de Deus, que é de promover dignidade de vida para as pessoas, pois todos nós somos filhos do Criador. E o menino Jesus aprendeu sobre essas virtudes com suas avós e com sua mãe Maria de Nazaré.
Que neste período do Advento, possamos também aprender com as mulheres fortes, avós do Menino Deus, a virtude da fé, da coragem para promover vida justa para todos, sobretudo os mais vulneráveis de nossa sociedade.
Ouça no Podcast Ignatiana [link]
Simone Furquim Guimarães é mestre em Teologia na linha bíblica. Tem experiência na área de Leitura Popular da Bíblia no Centro de Estudos Bíblicos (CEBI/Planalto Central).
Esta reflexão bíblica foi originalmente apresentada no Programa de Justiça e Paz, produzido pela Comissão de Justiça e Paz da Arquidiocese de Brasília, que vai ao ar todo sábado, às 11:00, na Rádio Nova Aliança.
Desde outubro de 2020, também disponível no podcast Ignatiana.
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IGNATIANA é um blog de produção coletiva, iniciado em 2018. Chama-se IGNATIANA (inaciana) porque buscamos na espiritualidade de Inácio de Loyola uma inspiração e um modo cristão de se fazer presente nesse mundo vasto e complicado.