Conversão verdadeira
Simone Furquim Guimarães
A leitura do Evangelho proposta pela Igreja hoje é Mt16,13-19.
Após um longo caminho de missão, Jesus e seus discípulos param para descansar na região de Cesareia de Felipe. Eles estavam próximos a uma fonte de água que brotava da pedra. A pedra que faz brotar água é considerada sagrada pelos habitantes daquele lugar, que celebravam seus cultos “pagãos”.
Foi uma parada propícia, após longo caminho de ensinamento, de descobertas e construções durante sua missão. Uma parada para avaliar sua missão. O Mestre procura conhecer o que pensam seus seguidores sobre si: “E vós”, retomou Jesus, “quem dizeis que eu sou?” (Mt 16,15). Pedro responde:
Tu és o Messias, o Filho do Deus vivo.
Com o reconhecimento de Pedro, que representa a comunidade de fé, Jesus olha para a fonte e proclama as palavras que nortearam posteriormente a formação da Igreja:
Tu és Pedro, e sobre esta pedra construirei a minha Igreja.
Não foi por acaso que o evangelista Mateus relatou que Jesus se reuniu naquele lugar com seus discípulos. Uma leitura possível diz que a pedra sagrada, onde jorra a água viva, é Jesus Cristo. Ele mesmo se identifica como sendo a pedra angular, rejeitada pelos construtores (Mt 21,42). Jesus é a rocha, o fundamento que dá solidez à sua Igreja (Mt 7,24-25).
A profissão de fé evocada pela boca de Pedro é a profissão de fé da Igreja, pois ele representa todos que creem que Jesus é o Ungido de Deus.
A missão de Pedro e dos demais apóstolos e apóstolas incomodou muitos poderes religiosos e políticos, porque eles anunciavam e viviam o Evangelho. Celebravam a partilha do pão e do vinho, fazendo a memória e o compromisso com o projeto de justiça. Este compromisso procurava manter viva a aliança feita com Jesus e a prática de seus ensinamentos. Isto nos leva a refletir se estamos sendo coerentes quando participamos de nossas celebrações dominicais – momentos em que toda a liturgia está voltada para que possamos fazer memória da vida de Jesus e assumir o compromisso de vivermos assim como ele viveu, edificando a sua Igreja, isto é, o Povo de Deus.
Infelizmente, algumas missas e cultos, muitas vezes, perdem sua importância reflexiva. Há templos caiados: bonitos e grandiosos por fora e “vazios” por dentro, que funcionam semelhantes a self-services, onde a salvação é negociada e comprada a custos elevados. Não produzem conversões verdadeiras (metanoia, do grego: conversão de perspectiva e de prática). Não é raro perceber que as pessoas saem desses templos, ainda mais individualistas e sedentas por uma imediata transformação mirabolante em suas vidas. Vivemos em meio a cenários em que as figuras que se dizem cristãs realizam verdadeiro merchandising da fé, aplicando um conjunto de ações e técnicas utilizadas para aumentar a procura e a venda de ilusões, com ampla exibição de suas práticas, em diferentes meios de comunicação e redes sociais.
A mudança que almejamos ao sairmos de nossas missas e cultos não deve ser orientada por ilusões. Precisa vir da própria liturgia, que tem a capacidade de provocar em nós o desejo de nos tornar pessoas mais humanas à semelhança de Jesus.
À exemplo de Pedro e demais apóstolos e apóstolas, permanecemos firmes na fé e na coragem de testemunhar o Cristo Ressuscitado, a pedra, a rocha. É Jesus o sinal visível da edificação da Igreja.

Simone Furquim Guimarães é mestre em Teologia na linha bíblica. Tem experiência na área de Leitura Popular da Bíblia no Centro de Estudos Bíblicos (CEBI/Planalto Central).
Esta reflexão bíblica foi originalmente apresentada no Programa de Justiça e Paz, produzido pela Comissão de Justiça e Paz da Arquidiocese de Brasília, que vai ao ar todo sábado, às 11:00, na Rádio Nova Aliança.
Desde outubro de 2020, também disponível no podcast Ignatiana.
Imagem
ATELIÊ 15
Instagram | Facebook | WhatsApp | Loja
Palavra de Deus Conversão Evangelho de Mateus Igreja Profissão de fé São Pedro Simone Furquim Tempo Comum
Ignatiana Visualizar tudo →
IGNATIANA é um blog de produção coletiva, iniciado em 2018. Chama-se IGNATIANA (inaciana) porque buscamos na espiritualidade de Inácio de Loyola uma inspiração e um modo cristão de se fazer presente nesse mundo vasto e complicado.