Minha conversa com o Pai
Joana Eleuthério *
Minha conversa com o Pai
(Da alegria de ser uma filha amada e perdoada)
… o pai não se preocupa se o filho manifesta um verdadeiro arrependimento, uma verdadeira contrição. Ele não o deixa falar, o abraça apertado, impede-lhe gestos penitenciais e expiatórios, e assim lhe mostra o seu perdão gratuito. Exatamente como Oseias profetizara: Deus continua amando o seu povo enquanto este se prostitui e,assim que pode, abraça-o novamente e o retoma (cf. Os 1, 2; 11, 8-9).
A acolhida amorosa,
surpreendente e misericordiosa
sem cólera nem julgamento.
Só alegria e felicidade
desde que ele me avistou no horizonte.
Tomado de compaixão,
esquecendo-se da idade,
corria em minha direção
quase sem conseguir respirar.
Nem mereço ser chamada de filha …
— Filha, filha querida,
desde sua despedida
estou a sua espera.
Dê cá um abraço, filha.
A alegria adormecida
explodiu em meu coração
ao identificar seu vulto
subindo a trilha do morro.
Estou sem banho faz dias…
Meu coração só quer o
perfume de seu amor.
Corra para os meus braços.
Deixa-me sentir
a minha menina de novo.
Embaraçar os fios da barba
nos seus cabelos
como antigamente.
Eu ajoelho e beijo seus pés, meu pai…
Mal posso esperar para
sentir o seu corpo aconchegado
e descansando no meu peito.
Respirando no mesmo sopro,
No mesmo ritmo,
que é vida e alegria.
— Amor que nunca morre.
Nem mereço ser uma de suas empregadas …
Filha, a sua roupa limpa
espera por você,
como as suas sandálias,
seus perfumes e anéis.
O seu quarto estava sem vida
porque a vida que havia nele
estava muito longe…
Como estou envergonhada, papai…
Pessoal, deixem tudo
que estão fazendo
minha filha voltou.
Ajudem para que ela entre
e seja cuidada pelas amas.
Vamos tomar o nosso
melhor vinho hoje.
Alegrem-se comigo!
Me botem no chão, eu caminho até a casa…
Carreguem-na como faziam
quando ela era criança.
Veja o estado de seus pés!
Amas, corram para cuidar
da criança de vocês,
ela está de novo aqui.
Espero que ainda sapeca,
para nossa alegria.
Meu pai, não mereço tudo isso …
Preparem um suntuoso jantar,
com o que encontrarem de melhor
contratem músicos e bailarinos
teremos uma longa noite
de festas e alegria
como há alguns anos.
Quero todo mundo à mesa.
Meu pai, não mereço nada disso,
queria apenas ser uma de suas servas…
Não quero ouvi-la mais, filha.
Não agora. Mais tarde talvez…
Entre logo em casa para o banho
e depois vá beijar sua mãe.
Ela continua adoentada,
sempre esperando
o seu cuidado todas as manhãs.
— Daqui a pouco será
a nossa grande festa.
Parece que o meu irmão está chegando, pai …
— Que algazarra é esta, Velho?
Matando novilhas cevadas,
contratando músicos e bailarinos,
O que houve para tanta festa?
Ah… Sim, a vadia voltou.
E eu estava no campo trabalhando
Estou muito cansado,
nem vou entrar em casa
vou dormir no celeiro.
Meu irmão, perdoe a minha insensatez…
Venha, meu filho querido,
alegre-se conosco, sua irmã voltou.
Precisamos celebrar,
ela estava morta e agora vive.
Você é o meu filho amado,
bom rapaz, responsável
e sempre do meu lado.
Minha vida é sua, sempre
compartilhamos tudo.
Entre meu irmão, meu pai te ama tanto …
— Meu pai? Nunca me deu nada,
Gosta só do meu trabalho
e agora ele coloca tudo e
todos aos seus pés.
Aos pés da filhinha dele,
a princesinha querida
e sempre paparicada.
* Joana Eleuthério é graduada em Letras. servidora pública aposentada da Secretaria de Estado de Planejamento, Orçamento e Gestão do Distrito Federal.
Imagem: Hijo prodigo — Hna Francis. Hermanas Agustinas, Monasterio de la Conversión (Espanha)
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Caminhante sem nenhuma linearidade e com variados interesses – uma buscadora incansável.