Coletivo Transfiguração

Edla Lula
Osmar Ferreira

Em Brasília, no Centro Cultural de Brasília, obra dos jesuítas, há um grupo chamado “Transfiguração”. Criado em 1997, este grupo, antes composto por três, no máximo cinco pessoas, reunia-se uma vez por ano para organizar a Vigília da Transfiguração – uma tradição importada de Salvador (BA), onde se celebra este ano a sua 42ª edição.

Criada pelas Missionárias da Fraternidade Cristã (MFrC), sob inspiração dos irmãos de Taizé, a vigília se realiza todos os anos em diversas paróquias da Arquidiocese de Salvador, em outras dioceses do nordeste e em Brasília. A vigília é uma experiencia de subida de noite inteira ao monte Tabor – em um sábado do mês de agosto – que cumpre o suave desafio de deixar a luz de Deus brilhar em cada um que ali está. Não só isso. Abordando, a cada ano, uma temática encarnada na história humana, a vigília nos impele também  a descer o Tabor para transfigurar a realidade de pobreza, dor, injustiça e de tantas situações que des-figuram a face humana, que distanciam o ser humano do seu “gene” transfigurador, como bem descreve o padre Adroaldo Palaoro.

A partir de 2020, quando a humanidade inteira mergulhou no profundo abismo escavado pela pandemia da Covid-19, dizimando vidas, asfixiando corações, o grupo do WhatsApp, antes só movimentado entre junho e agosto, para organizar o evento, aumentou e transformou-se em um verdadeiro cenáculo virtual, onde compartilhávamos nossas dores e sofrimentos, chorávamos as nossas perdas, intercedíamos uns pelos outros e celebrávamos cada vitória sobre a covid e outras mazelas. Acima de tudo, na impossibilidade de participação nas missas e outros ritos, mantivemo-nos unidos enquanto comunidade orante.

Entre tantas perdas que tivemos naquele ano, estava o principal entusiasta da vigília em Brasília, padre Manuel Iglesias. Ele, que neste 6 de agosto de 2023 completaria 90 anos, partiu para a casa do pai em setembro de 2020, pouco depois de nos encorajar na realização da vigília que fizemos vitualmente, da qual não participou, por limitações tecnológicas. A última aparição para a comunidade do CCB havia sido em julho, na Caminhada de Santo Inacio, feita também de modo virtual, durante a qual, pelas mesmas limitações tecnológicas, circulava pelos pátios de Itaici, sem perceber que a câmera do seu celular capturava seu rosto translucido enquanto falava sobre a alegria de estar entre nós. Foi uma bela despedida.

Depois dele, choramos juntos por muitos outros amigos queridos que se foram, por diferentes motivos: Ana Christina, Antônio Abreu, Thierry Linard, Pedro Casaldáliga, Pe. Bruno Sechi, Adonis Arouck, Francisco Gomes, João Carlos Pereira, jornalista que nos concedeu a honra de acompanhar suas crônicas no Blog Ignatiana.

Rendemos ações de graça também por muitas curas e outras conquistas.

O grupo de oração foi moldando-se em um Coletivo Orante. Esta transfiguração deu-se sem alarde, sem anúncios. Foi a discreta ação do Espírito que – pelas ternas mãos de Maria, e com o encorajamento do Bom Jesus Luminoso – nos fez perceber que nossa vocação é sermos seres de luz.

Compartilhando eucaristicamente as tribulações, fomos nos fortalecendo na perseverança; desta perseverança brotou a esperança, fruto do amor de Deus derramado em nossos corações (cf. Rm 5,5). Deste modo, o Coletivo Transfiguração suplica, agradece e, em tudo, vive a Esperança que não decepciona.

Um pequeno grupo no WhatsApp, um pequeno oásis para viver um desafiador luto coletivo. Suspenso o isolamento social, o Coletivo Transfiguração permanece ativo como memória da esperança e sustento no caminhar. O Bom Jesus Luminoso tem nele suas devotas, devotos e devotes – Sim, devotes! Ecoa em nossos corações as palavras de padre Adroaldo:

Na transfiguração, a humanidade de Jesus se revela como pura transparência do Pai. Ou seja, o que há de divino em Jesus está em sua humanidade. Só no humano transparece Deus.

Este ano, a vigília em Brasília será celebrada no dia 19 de agosto, iniciando as 20 horas, simultaneamente à de Salvador. O tema sugerido para este ano, pela fundadora do MFraC e criadora da vigília Gisa Maia, é Graça e Missão, inspirado no Ano Vocacional.

Imagem: Luís Henrique Alves Pinto

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IGNATIANA é um blog de produção coletiva, iniciado em 2018. Chama-se IGNATIANA (inaciana) porque buscamos na espiritualidade de Inácio de Loyola uma inspiração e um modo cristão de se fazer presente nesse mundo vasto e complicado.

2 comentários Deixe um comentário

  1. Distante de Brasília, temporariamente, tentarei acompanhar virtualmente a vigília, se houver essa possibilidade.
    Me sinto muito grata por estar na caminhada com vocês. Grande abraço.
    EM TEMPO: Deus continue abençoando nossos queridos inspiradores, coordenadores e tutores: Edla e Osmar.

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  2. Que texto inspirador!
    Que experiência rica!
    Obrigada por compartilhar!
    Vai ser possível participar online?
    Abraços fraternos.

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