Páscoa de Padre Thierry Linard SJ
Comissão Justiça e Paz de Brasília (CJP-DF)
Comissão Brasileira Justiça e Paz (CBJP)
Porque, se vivemos, é para o Senhor que vivemos. Se morremos, é para o Senhor que morremos. E
Romanos 14, 8
assim, quer vivamos, quer morramos, pertencemos ao Senhor.
As Comissões Justiça e Paz de Brasília (CJP-DF) e a Brasileira Justiça e Paz (CBJP) comunicam com gratidão e pesar que o nosso amado irmão, amigo, companheiro de Comissões, Thierry Linard de Gueterchin, o padre Thierry, partiu para a casa do Pai às duas horas da madrugada desse domingo, 30 de janeiro de 2022.
Prova dessa fraternidade, amizade e companheirismo a esse belga que veio para o Brasil com 31 anos e daqui não mais saiu – a não ser em viagens sazonais, para se encontrar com a família, para estudos e serviços de sua Ordem –, são as inúmeras mensagens, depoimentos, necrológios que, logo que se teve a notícia de sua páscoa definitiva, começaram a circular intensamente.
Deles logo se reconhece o perfil desse jesuíta, forjado no carisma da Companhia de Jesus, forte na espiritualidade, sempre atualizada, fortalecida pelos exercícios espirituais e pelo discernimento, o que lhe conferiu e aos jesuítas o inarredável compromisso de evangelização. Como o Papa Francisco, seu irmão de Ordem, Thierry encarnava o carisma jesuíta: “O jesuíta é um homem entregue a Deus que aplica um estilo: analisa a realidade na qual se encontra, aprofunda-a, reza e faz o discernimento”. Encara os problemas do mundo e trabalha.
Contudo, com alegria. Com humor. Sempre sorrindo como sabemos os que o conhecíamos o padre Thierry. Também jesuíta São Tomás de Aquino dizia: “Ludus est necessarius ad conservationem humanae vitae” (O humor é necessário para a conservação da vida humana). Ou como o padre Antonio Veira, também jesuíta: “Não há maior comédia que a minha vida; e quando quero ou chorar ou rir, admirar-me ou dar graças a Deus ou zombar do mundo, não tenho mais que olhar para mim”.
Padre Thierry Linard (1944-2022), filósofo, teólogo, cientista social e demógrafo, jesuíta “franciscano”. Da Bélgica para a Rocinha, da PUC Rio para a CNBB, da fecunda existência, ceifada por um câncer, para o coração de todos nós, que tanto o admiramos. Thierry deságua no oceano da Eternidade.
Em 1974 queria ir para a Índia, mas foi desaconselhado pelo padre geral dos jesuítas dadas as dificuldades de conseguir visto para o país. Os padres brasileiros que conheceu no curso de teologia na Bélgica o estimularam a vir ao Brasil, dedicar-se à missão. Ele chegou ao país em novembro de 1975. Trabalhou por 20 anos no Rio de Janeiro, na favela da Rocinha, até 1998.
Escritor profícuo em livros e artigos científicos, ofertou ao Brasil, em obra de pesquisadores da PUC Rio, o inestimável Mapa das Religiões, publicado por Edições Loyola. Obra prima de demografia e mapas da pertença religiosa no Brasil a partir dos censos do IBGE.
Outros mais de 20 anos em Brasília, onde dedicou parte do seu tempo ao Instituto Brasileiro de Desenvolvimento (Ibrades). No Centro Cultural de Brasília, instituição dos padres jesuítas, participava da organização do Observatório de Justiça Socioambiental Luciano Mendes de Almeida – OLMA. “Este trabalho pretende analisar a realidade social e contribuir para a superação do abismo da injustiça social que não se alterou no Brasil desde que cheguei por aqui”, disse padre Thierry em entrevista para a CNBB.
O religioso destacava que o desafio de saber falar o português foi uma de suas maiores dificuldades. “Não perdi o sotaque mesmo depois de 40 anos morando aqui. O que me consola é que a pessoas são muito amáveis e dizem que o meu sotaque é charmoso”, contava.
Sua formação básica se deu nas áreas de Filosofia e Teologia, com mestrado em Demografia, pela Universidade Católica de Lovaina e em Geografia na Universidade de Liège, ambas na Bélgica. Foi professor na PUC Rio de 1976 a 1996, no departamento de Sociologia e Ciências Políticas. Na Rocinha, foi assistente espiritual da Ação Social Padre Anchieta (ASPA) que capturou o seu coração por toda a vida”.
Em Brasília ainda, colaborou com a CNBB e atuou como membro titular da Comissão Brasileira Justiça e Paz e, especialmente nos misteres de análise da conjuntura e na promoção dos diálogos internos e com a sociedade; fazia marcante também a sua atuação na Comissão de Justiça e Paz da Arquidiocese, na qualidade de membro com a função de assessor eclesial na forma do Estatuto.
No espaço local da CJP-DF caminhava entre os humildes, com o povo de rua, no acolhimento e na promoção de sua dignidade, enquanto mobilizava nossa sensibilidade de modo reflexivo, lendo os evangelhos e os sentidos dos ensinamentos sociais da Igreja, discernindo e mobilizando, a partir de nossos programas e conversas de justiça e paz.
Guardamos, assim, uma de suas últimas exortações proféticas, dando seguimento ao ensinamento do Papa Francisco sobre a centralidade do humano em face da economia: “Uma economia mais humana e mais ecológica que possa conter a autodestruição do mundo, a terra da qual somos inquilinos e guardiões enquanto a habitamos”.
Descanse em PAZ nos braços de Deus e de Maria, Padre Thierry.
Brasília (DF), 30 de janeiro de 2022.
Daniel Seidel
Secretário Executivo da CBJP, Organismo da CNBB
Eduardo Xavier Lemos
Presidente da CJP-DF
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IGNATIANA é um blog de produção coletiva, iniciado em 2018. Chama-se IGNATIANA (inaciana) porque buscamos na espiritualidade de Inácio de Loyola uma inspiração e um modo cristão de se fazer presente nesse mundo vasto e complicado.