Ana Cristina
Ao lado do Serpro, lá na avenida L2 Norte, existia o Centro Cultural de Brasília, local de reflexão e espiritualidade, obra pastoral dos Padres Jesuítas.
Local que frequentei e vivi momentos intensos e construi sólidas amizades com pessoas admiráveis.
Lembro-me que sempre ali chegava, deparava-me com o painel de bronze de Dom Luciano Mendes e a estátua de Santo Inácio de Loyola.
Dom Luciano nos remete a expressão lapidar de que “Deus é bom”, Santo Inácio no indica como caminho de seguimento a contemplação na ação.
Havia ali, porém, outras maneiras de sentir a presença do Dinino naquele espaço.
Uma delas, por certo, encontrava-se numa sala qualquer à esquerda de Santo Inácio, pois ali Deus se apresentava não apenas na contemplação e ação ou na expressão predileta de Luciano.
O Grande Mistério se apresentava num sorriso de acolhida e na inesgotável capacidade de aconchego e atenção.
O sorriso se vestia de azul, cor do uniforme do CCB e tinha nome: Ana Cristina.
Às vezes eu a encontrava fora daquele ambiente, algumas vezes em manifestações populares e celebrações do povo da caminhada de Brasília.
Numa certa vez, lembro-me quando celebrávamos a festa de São João na casa de um casal de amigos comuns em samambaia.
No roteiro celebrativo continha a rememoração de como cada um viveu sua festa junina quando criança.
Ana Cristina, ao lado de seu companheiro de vida, Assis, deixou-me com a sensação de ter vivido aquela experiência de uma festa comunitária, onde todos e todas partilhavam o que tinham e ainda sobravam. Gesto que no evangelho segundo João seria visto como grande sinal ou como alguns preferem, milagre.
Aliás, segundo o relato, o Assis era o responsável pelo famoso “pau de sebo”. Aquela brincadeira de subir um pau gigante de cabeça para baixo, tarefa quase impossível que ao vencedor reserva-se prêmios e prendas. Desse convívio que nasceu e se cultivou o amor de ambos e com o qual construíram uma vida comum.
Tudo isso vem em meu coração, pois soube agora pouco que ela não resistiu ao Coronavirus. Fiquei com a sensação de que ela foi convidada a sorrir lá no céu.
Se a saudade é como dizem, a presença na ausência, seu sorriso será sentido em todas as celebrações do povo da caminhada de Brasília.
Sei que será duro para seus familiares, particularmente, ao Assis e seus três filhos a vida sem ela.
Que saibamos ser presença confortante a eles nessas horas insuportavelmente difíceis.

Que o sorriso, a capacidade de acolhimento de Ana seja o nosso horizonte e inspiração.
Brasília, 11 de setembro de 2020.
Paz e Bem!
Gilberto Sousa
Ignatiana Visualizar tudo →
IGNATIANA é um blog de produção coletiva, iniciado em 2018. Chama-se IGNATIANA (inaciana) porque buscamos na espiritualidade de Inácio de Loyola uma inspiração e um modo cristão de se fazer presente nesse mundo vasto e complicado.
Muito.triste!
Li. que os vírus fazem seleção, mas este tem spin trocado, escolhe quem precisava ainda ficar.
Muito jovem e estas crianças.
Olha, choro por ela, por tantos.
Sei que não devo, mas não estou aguentando .
Vontade de abraçar estes pequenos.
Abraço fraterno em Cristo.
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