Luiz Fernando Krieger Merico

Em 2015, junto com o lançamento da encíclica Laudato Sí, as Nações Unidas também lançavam uma proposta, fruto de mais de 50 anos de acúmulos de experiencias e negociações entre países: eram os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável – os ODS, que são 17 objetivos globais. É uma agenda de trabalho que ficou conhecida como Agenda 2030, e são tarefas fundamentais e urgentes que devemos cumprir, como humanidade, até o ano de 2030. Assim como a Laudato Sí, a Agenda 2030 reconhece e identifica os problemas que vivemos e aponta caminhos de solução com metas e indicadores para ir acompanhando sua implementação.

Os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, oferecem caminhos para superar a fome, promover os empregos e a produção justa e sustentável, reduzir as desigualdades sociais, melhorar a oferta de serviços de água e energia limpa e de proteger os recursos naturais que garantem a nossa vida e nossa existência.

A meta de alcançar os ODS em 2030 não é por acaso. É toda a nossa ciência e realidade demonstrada nos fatos e nas catástrofes que nos cercam que estabelece este panorama: ou alcançamos estes objetivos até 2030, ou muitas situações serão irreversíveis, afetando as nossas e as futuras gerações. Temos uma janela de oportunidade, de realizar as mudanças que necessitamos, até princípios da próxima década, especialmente nas questões ambientais e climáticas. A partir deste período, o aquecimento, a desertificação a perda de biodiversidade, a degradação dos oceanos, podem ser caminhos sem volta. Para onde vamos nos encaminhando, é território desconhecido pela humanidade. Metade do tempo para fazermos esta transição já passou.

Além do mais, fala-se muito pouco sobre este assunto. No Brasil, quase não se debate a Agenda 2030 e a população praticamente desconhece o que isto significa. Isso é que preocupa, porque será necessária uma corajosa mudança na produção e no consumo. Também em nossas dietas. Mas esta inflexão na nossa trajetória e nosso envolvimento tem sido claramente insuficiente até aqui.

Assim como acontece com a encíclica Laudato Sí, que trata basicamente dos mesmos assuntos, parece que as pessoas não creem, ou não querem acreditar. Nós temos recursos tecnológicos de sobra e temos recursos financeiros de sobra. O que necessitamos é de um novo sistema de valores para poder erradicar a pobreza, a fome, a destruição. Que mais seria necessário para que mudemos de rumo? Neste contexto é importante entender também que as plataformas de redes sociais não ajudam: todas, desde Twitter, Instagram, Facebook, Youtube, Google, Telegram e seus algoritmos, tem ajudado a promover a violência, as desigualdades, a destruição, o armamentismo, os ataques à escolas e muitas outras coisas que nos prejudicam agora e no futuro.  Estas plataformas têm agido para conter as mudanças que deveríamos processar. E se alguém fala em controlar estas redes, aqueles que se beneficiam da disseminação de uma realidade paralela agem com rapidez e força.

A encíclica Fratelli Tutti, em seu parágrafo 118, diz o seguinte:

O mundo existe para todos, porque todos nós, seres humanos, nascemos nesta terra com a mesma dignidade. As diferenças de cor, religião, capacidade, local de nascimento, lugar de residência e muitas outras não podem antepor-se nem ser usadas para justificar privilégios de alguns em detrimento dos direitos de todos. Por conseguinte, como comunidade, temos o dever de garantir que cada pessoa viva com dignidade e disponha de adequadas oportunidades para o seu desenvolvimento integral.

A Agenda 2030 diz como fazer isto e ainda propõe metas e indicadores para avançar. É nosso caminho civilizatório.  

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Luiz Fernando Krieger Merico é graduado em Geologia (UFPR), mestre em Análise Ambiental (UNESP), doutor em Geografia (USP), possui aperfeiçoamento no Schumacher College (Inglaterra) em Economia Ecológica. É autor do livro Mística do século XXI: Guia de Oração com as encíclicas Laudato Si’ e Fratelli Tutti (e-book).

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