Amizade e comunhão
Simone Furquim Guimarães
A leitura do Evangelho hoje é Lc 5,27-32. Jesus encontra Levi no trabalho de coletar impostos e o chama para seu Seguimento. Levi aceita e passa ser seu discípulo. Levi o convida a fazer uma refeição em sua casa e Jesus aceita e come com Levi e todos os outros convidados. Ali se firma um pacto de amizade e comunhão. Isto escandaliza os Fariseus e Mestres da Lei; eles murmuram, reclamam desse gesto de Jesus, pois os cobradores de impostos são considerados impuros, segundo a Lei descrita na Torá (a Bíblia dos judeus).
Aqueles líderes religiosos não se abriram para o projeto de Deus, que é do diálogo e do acolhimento. Mas a Boa Notícia deste texto para nós hoje anuncia que Jesus rompe definitivamente com a lei do puro e impuro, rompe as “barreiras” que impedem a aproximação das pessoas; barreiras que impedem o diálogo, a ternura, o pacto de amizade. Jesus faz amizade com Levi e com os considerados pecadores pelo fundamentalismo religioso daquele tempo.
É importante perceber que em todos os Evangelhos, a mesa, o pão, a comida é central na vida de Jesus e das comunidades cristãs, pois nos ensina o quanto é necessário para alimentar não somente a fome material como também espiritual. Por isso, representa a acolhida e a solução para aqueles que estão na miséria.
Dito isto, a leitura de hoje nos ajuda a perceber que ainda vivemos num deserto árido, de escassez que gera fome e sede, tanto material como espiritual, pois tanto o sistema capitalista exclui as pessoas do plano democrático e participativo para que todos tenham acesso aos direitos básico da pessoa humana, dentre estes, a segurança alimentar. Importante dizer que o capitalismo fez criar abismos excludentes, gerando fome e miséria em nossa sociedade. Também vivemos em um abismo excludente dentro das igrejas, em que muitas lideranças religiosas (farisaicas) excluem as pessoas do plano de salvação de Deus, excluem as pessoas do convívio comunitário nas igrejas por não seguir as regras destas igrejas.
Diante da fome e miséria que vivemos nesses dois âmbitos da vida humana, a Campanha da Fraternidade deste ano, lançou o tema: Fraternidade e Fome, imbuída da provocação de Jesus que teve compaixão da multidão faminta e desgarrada, pois os pastores (políticos e religiosos) não mais cuidavam dessas ovelhas. Diante da fome e da miséria humana, hoje Jesus nos pede: “Dai-lhe vós mesmo de comer” (Mt 14,16). Este é o lema da CF e nosso desafio como cristão.
Diante do deserto árido, de escassez, que gera fome e sede, tanto material como espiritual, que neste período quaresmal, tempo de reflexão e de arrependimento, possamos abrir nosso coração e deixar Deus fazer sua morada, assim como Levi, que seguiu o chamado de Jesus e o convidou a entrar em sua casa. E, assim como Jesus, possamos romper com as cegueiras dos preconceitos farisaicos de hoje, acolher todos e todas nesta mesa da comunhão, comprometendo-nos como cristãos e lutar para que o pão material e espiritual seja verdadeiro alimento democrático.
Ouça no Podcast Ignatiana [link]
Simone Furquim Guimarães é mestre em Teologia na linha bíblica. Tem experiência na área de Leitura Popular da Bíblia no Centro de Estudos Bíblicos (CEBI/Planalto Central).
Esta reflexão bíblica foi originalmente apresentada no Programa de Justiça e Paz, produzido pela Comissão de Justiça e Paz da Arquidiocese de Brasília, que vai ao ar todo sábado, às 11:00, na Rádio Nova Aliança.
Desde outubro de 2020, também disponível no podcast Ignatiana.
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IGNATIANA é um blog de produção coletiva, iniciado em 2018. Chama-se IGNATIANA (inaciana) porque buscamos na espiritualidade de Inácio de Loyola uma inspiração e um modo cristão de se fazer presente nesse mundo vasto e complicado.