Persistir na justiça e na fé
Simone Furquim Guimarães
A leitura do Evangelho de hoje é Lc 18,1-8. É uma parábola em que Jesus mostra dois personagens: um juiz que “não teme a Deus” e “não respeita as pessoas”; este juiz é um homem surdo à voz de Deus e indiferente aos sofrimentos dos oprimidos. De outro lado, a parábola fala de uma viúva que tem fé e que protesta, pedindo justiça, apesar da insensibilidade do juiz.
Na tradição bíblica, viúvas, pessoas órfãs e estrangeiras eram o símbolo de pobreza, do desamparo e da marginalização. Estavam entregues à própria sorte. A pobre viúva, longe de resignar-se, clama por justiça; ela não tem outra coisa a não ser sua voz para gritar e reivindicar seus direitos. Seu pedido é o de todos os oprimidos. Um grito que vai ao encontro daquilo que Jesus dizia aos seus seguidores: “Buscai o Reino de Deus e sua justiça”.
A chave da parábola é a “sede de justiça”. A expressão “fazer justiça” é repetida quatro vezes no texto. O evangelho nos coloca diante do exemplo da fé e do grito de protesto da viúva, capaz de alterar a ordem injusta do sistema social.
Hoje, podemos dizer que o juiz da parábola pode ser representado pelas lideranças de instituições – seja civil ou religiosa – que, apesar de usar o nome de Deus em seus discursos, não temem a Deus; ou seja, não são obedientes ao projeto de Deus para a humanidade e não ouvem o grito dos empobrecidos de nossa sociedade.
Hoje, podemos dizer que a fé testemunhada pela viúva é a força que move uma ação para a transformação de uma realidade e para a promoção de justiça. São os movimentos sociais e movimentos dentro das igrejas que lutam por justiça e paz.
Os gritos dos excluídos foram atendidos nas urnas nesta última eleição política. Agora, para que a realidade se transforme, continua sendo necessário elevar as vozes das viúvas, a voz de todos os oprimidos de nosso país, que clamam diante de Deus e diante dos homens. É importante entender que a luta não termina nas urnas; pelo contrário, é só um começo.
Contra todo sistema que silencia a voz dos injustiçados, nós cristãos temos que nos comprometermos e elevar nossa voz profética, como tantos homens e mulheres de nosso tempo e que têm fé, pois é assim que Jesus espera de nós. Jesus espera que sejamos como essa viúva: persistente na busca por justiça motivada pela fé.
Ouça no Podcast Ignatiana [link]
Simone Furquim Guimarães é mestre em Teologia na linha bíblica. Tem experiência na área de Leitura Popular da Bíblia no Centro de Estudos Bíblicos (CEBI/Planalto Central).
Esta reflexão bíblica foi originalmente apresentada no Programa de Justiça e Paz, produzido pela Comissão de Justiça e Paz da Arquidiocese de Brasília, que vai ao ar todo sábado, às 11:00, na Rádio Nova Aliança.
Desde outubro de 2020, também disponível no podcast Ignatiana.
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IGNATIANA é um blog de produção coletiva, iniciado em 2018. Chama-se IGNATIANA (inaciana) porque buscamos na espiritualidade de Inácio de Loyola uma inspiração e um modo cristão de se fazer presente nesse mundo vasto e complicado.