O deus Dinheiro
Simone Furquim Guimarães
A leitura do Evangelho de hoje é Lc 16,9-15. É uma conclusão crítica que Jesus faz sobre o administrador desonesto da parábola do texto anterior (Lc 16,1-8), que furtou o dinheiro do patrão para garantir seu futuro. Também é uma provocação para refletirmos como lidamos com o dinheiro ou como vivemos na lógica do acumulo de bens materiais e da exploração.
Jesus critica aquele que vive do dinheiro injusto/iníquo, critica também aquele que valoriza mais o dinheiro do que as pessoas. O dinheiro passa a ser o “senhor” de sua vida. A palavra Dinheiro está com a inicial maiúscula, entendido como deus. Quem adora o dinheiro vive a lógica do acúmulo, do lucro pela exploração. É a lógica do projeto político que prega que “devemos cortar na carne” o orçamento dos serviços essenciais, como a saúde, educação, segurança, moradia; bem como devemos “fazer o sacrifício” para melhorar a economia do nosso país. Por causa dos intermináveis sacrifícios, perdemos os direitos adquiridos, como a previdência social e os direitos trabalhistas que atingem a maior parte dos empobrecidos de nosso país.
Na encíclica Evangelii Gaudium, nº 55, papa Francisco faz a mesma crítica. Ele diz que nós criamos novos ídolos quando aceitamos que o dinheiro domine sobre nós e as nossas sociedades. “A crise financeira que atravessamos nos faz esquecer que, na sua origem, há uma crise antropológica profunda: a negação da primazia do ser humano”.
Jesus critica a lógica do sistema que prega que para ser feliz, realizado, a pessoa tem de “ter” os bens materiais e passa a adorar o “deus mercado”. O mercado tem até sentimento. Quantas vezes ouvimos nos noticiários que “o mercado está nervoso”. Quem é esse mercado? “Não podeis servir a Deus e ao Dinheiro” (v.13).
O evangelista fala que os fariseus são amigos do dinheiro e zombam do ensinamento de Jesus. Por causa disto, Jesus foi mais enfático com eles: “Vós sois os que passam por justos diante dos homens, mas Deus conhece os corações; o que é elevado para os homens é abominável diante de Deus” (v.15). Deus sabe bem a origem do dinheiro da falsa “caridade” que está sendo feita para se passar por “justo”. Esse dinheiro é abominável para Deus porque foi adquirido a partir da exploração das pessoas, gerando pobreza e miséria no mundo. Quem tem o dinheiro de origem iníqua, não está preocupado com a justiça socioambiental, com as desigualdades econômicas, com a fome e a miséria.
Que aprendamos com o Evangelho a servir a Deus e não ao “Dinheiro”; aprendamos a viver a lógica do Reino (que é a partilha) e não a lógica do sistema consumista e individualista, que explora os seres humanos e o meio ambiente.
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Simone Furquim Guimarães é mestre em Teologia na linha bíblica. Tem experiência na área de Leitura Popular da Bíblia no Centro de Estudos Bíblicos (CEBI/Planalto Central).
Esta reflexão bíblica foi originalmente apresentada no Programa de Justiça e Paz, produzido pela Comissão de Justiça e Paz da Arquidiocese de Brasília, que vai ao ar todo sábado, às 11:00, na Rádio Nova Aliança.
Desde outubro de 2020, também disponível no podcast Ignatiana.
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IGNATIANA é um blog de produção coletiva, iniciado em 2018. Chama-se IGNATIANA (inaciana) porque buscamos na espiritualidade de Inácio de Loyola uma inspiração e um modo cristão de se fazer presente nesse mundo vasto e complicado.