Princípio e fundamento: revisitando a história da salvação

Dilma Beirão

O homem é criado para louvar, reverenciar e servir a Deus Nosso Senhor, e assim salvar a sua alma. E as outras coisas sobre a face da terra são criadas para o homem, a fim de ajudá-lo a alcançar o fim para que foi criado. Donde se segue que há de usar delas tanto quanto o ajudem a atingir o seu fim, e há de privar-se delas tanto quanto dele se afastem, pelo que é necessário tornar-nos indiferentes a respeito de todas as coisas criadas em tudo aquilo que depende da escolha do nosso livre-arbítrio, e não lhe é proibido. De tal maneira que, de nossa parte, não queiramos mais saúde que doença, riqueza que pobreza, honra que desonra, vida longa que breve, e assim por diante em tudo o mais, desejando e escolhendo apenas o que mais nos conduzir ao fim para que fomos criados.

EE 23

Princípio e Fundamento são dois substantivos importantes. ‘Princípio’ fala da causa primeira de alguma coisa, da origem, do ponto de partida. ‘Fundamento’, por sua vez, é aquilo que confere a alguma coisa sua existência ou razão de ser, que lhe dá estabilidade e solidez.

Meditando acerca de nosso princípio e fundamento: “o homem é criado para louvar, reverenciar e servir a Deus Nosso Senhor, e assim salvar a sua alma”.

Comecemos pelo significado de cada palavra.

  1. Reverência, etimologicamente, este termo se originou a partir do latim “reverentia”, que significa “temor respeitoso” ou “receio”. Alguns dos principais sinônimos de reverência são: saudação, consideração, respeito, deferência e mesura.
    Reverenciar é a ação de demonstrar o respeito e humildade em relação a algo ou alguém que é considerado sagrado ou importante. Fazer reverência a Deus, de acordo com algumas doutrinas religiosas, significa pôr-se em posição de obediência e compromisso.
    O temor a Deus é um sentimento de respeito e reverência praticada pela doutrina cristã, segundo previsto no livro de Hebreus da Bíblia Sagrada: “Por isso, recebendo nós um reino inabalável, guardemos a graça, pela qual servimos a Deus de modo agradável, com reverência e santo temor; porque o nosso Deus é fogo consumidor” (Hb 12, 28-29).
  2. Para louvar, tenho que ser agradecida a Deus e entender que a vida é um dom divino, que somos afortunados por ter família, saúde, abrigo, alimento e aceitar as bênçãos (e também os obstáculos) com o coração aberto, sabendo que o tempo de Deus nem sempre é o nosso tempo. Ser grato a Deus é ainda ter a certeza de que Ele está cuidando de nós e fazendo sempre o melhor e o melhor é vivermos com Ele aqui e na eternidade. “Por meio deste evangelho vocês são salvos, desde que se apeguem firmemente à palavra que lhes preguei; caso contrário, vocês têm crido em vão.” (1 Cor 15,1).
    A palavra louvor vem do hebraico que significa “elogio”. O louvor consiste em elogiar a Deus, em exaltá-Lo e mostrar seus atributos através de canções e orações. Louvar é exercício da memória que, agradecida, exalta o Criador e sua Criação, dando glória a Deus.
  3. Servir é dar-se, ocupar-se das coisas de Deus, dedicar-se às necessidades dos filhos de Deus. É a oferta da razão, mas longe de ser puramente razão, é seguimento de Jesus, do Jesus pobre, filho da jovem Maria, que nasceu na gruta de Belém, que foi criado por sua mãe e seu pai de criação, José. Desse Jesus que aprendeu o ofício de seu pai, que na vida pública reuniu e preparou seguidores, os apóstolos e discípulos, pregou nas sinagogas da Galileia, curou todo o tipo de enfermidades, expulsou demônios, ressuscitou mortos.
    Uniu-se a pobres e excluídos. Interpelado por doutores da lei, sobre o maior e mais importante prescrição, apresentou não o preceito do sábado, pois este excluía a vida, mas o amor, dizendo: “Ouve, Israel! O Senhor nosso Deus é um só. Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, com toda a tua alma, com todo o teu entendimento e com toda a tua força! E o segundo mandamento é: amarás teu próximo como a ti mesmo! Não existe outro mandamento maior do que estes.” (Mt 22, 37-40)
    Esse mesmo Jesus que foi perseguido pelos sacerdotes da época, que rumou para Jerusalém para sofrer a Paixão, que antes da traição de Judas, celebrou a Páscoa. Quando lavou os pés dos apóstolos, disse à Pedro, que queria impedi-lo: “Pedro, se não deixas que te lave os pés não terás parte comigo em meu Reino.” (Jo 13, 8). Deixou claro sempre: “Eu vim para servir”.
    Condenado à morte, foi chicoteado, zombado, escarrado. Coroado de espinhos, carregou a cruz e morreu crucificado, por amor. O Pai o Ressuscitou no terceiro dia também por amor. Cada um de nós foi salvo por Ele em seu sacrifício de amor.

É a este Jesus que somos convidados a seguir e a amar. Nosso amor deve aumentar sempre durante o seguimento, estreitando-se a cada dia. Essa união com Ele cresce em nós, transformando-nos Nele ou, talvez, seja Ele que se derrama e se funde conosco, filhos de Deus. Sirvamos a Deus na liberdade de filhos, de amados, a caminho da eternidade para a Vida.

Sirvamos a Deus na liberdade de filhos, de amados, a caminho da eternidade para a Vida.

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Dilma Beirão é leiga, pertencente à Comunidade de Vida Cristã (CVX), comunidade Nossa Senhora da Luz, Rio de Janeiro (RJ).

Imagem: Ligia de Medeiros — Azulejo enquadrado
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