Encantar a Política (II)
Simone Furquim Guimarães
A leitura de hoje é Lc 2,41-51. O Evangelho relata que aos doze anos de idade Jesus acompanha seus pais a Jerusalém, para a festa da Páscoa; porém ele não volta com a caravana. Seus pais voltam para Jerusalém e o encontram no Templo.
Importante destacar aqui que Jesus impressionou todos os doutores da Lei (da Torá) que o ouviram no Templo. O texto diz que os doutores da Lei ficaram extasiados com sua inteligência e com suas respostas. O texto finaliza, dizendo:
Jesus crescia em sabedoria, em estatura e em graça, diante de Deus e diante dos homens.
Lc 2,52
Aqui é importante fazermos uma leitura na perspectiva da mulher, sobretudo do papel da mulher naquela sociedade judaica. Na tradição judaica do mundo bíblico, a criança era educada pela mãe, em casa, até os 12 anos de idade. Compreendemos, portanto, que o berço de Jesus e seus ensinamentos sobre a fé em Deus se dá pela mãe. Jesus aprendeu a teologia do Magnificat:
O Todo-poderoso…dispersou os homens de coração orgulhoso. Depôs poderosos de seus tronos, e a humildes exaltou. Cumulou de bens a famintos e despediu ricos de mãos vazias. Socorreu Israel, seu servo, lembrando de sua misericórdia.
cf. Lc 1,51-54
Isto significa dizer que a teologia nasce na casa, a partir da mulher, da mãe, que vai fazer memória do Deus libertador, do Êxodo. É uma teologia que nasce dos pequenos, dos “debaixo”. Jesus impressionou os doutores da Lei porque fez memória a essa teologia. Lembrando que os profetas são os que mais fizeram memória do Deus do Êxodo para que Israel não se desviasse do caminho e nem seguisse o caminho dos ímpios.
O Evangelho de hoje nos mostra que Jesus inaugura uma nova imagem deste Deus: Deus não vai ser mais chamado de “Todo poderoso”, que muitas vezes acaba sendo representado como o Deus dos exércitos. Ao responder sua mãe sobre porque não os acompanhou na caravana de volta pra casa, Jesus disse: “Não sabíeis que devo estar na casa de meu Pai?”. Jesus representa Deus como um Pai, alguém mais próximo e familiar.
Portanto, pensar Deus como Pai e nós como seus filhos e filhas; e, por conseguinte, nos perceber como irmãos e irmãs é estabelecer uma grande fraternidade; uma amizade social. Este é o tema do capítulo dois, do caderno “Encantar a Política”, que estamos tratando hoje no programa de Justiça e Paz.
Nos diferentes campos de atuação política, seja nos partidos políticos, nos movimentos sociais etc. Em todos esses campos, é importante recordar o ensinamento de Jesus sobre o mandamento do Amor. No Evangelho, Jesus diz que o primeiro mandamento é amar a Deus e o próximo. Ou seja, o amor a Deus está intrinsicamente ligado ao amor pelo próximo. Portanto, a amizade social implica uma amizade fraterna, “que deve unir todos os seres humanos numa grande comunidade na qual ninguém tenha seus direitos desrespeitados, inclusive o direito à diferença” (cf. p. 25).
Diante de Deus e diante da humanidade, Jesus cresce e permanece nos impressionando com sua sabedoria todas as vezes que nos alimentamos do Evangelho, com o coração aberto, inclusive em busca de encontrar uma ética na política.
Ouça no Podcast Ignatiana
Simone Furquim Guimarães é mestre em Teologia na linha bíblica. Tem experiência na área de Leitura Popular da Bíblia no Centro de Estudos Bíblicos (CEBI/Planalto Central).
Esta reflexão bíblica foi originalmente apresentada no Programa de Justiça e Paz, produzido pela Comissão de Justiça e Paz da Arquidiocese de Brasília, que vai ao ar todo sábado, às 11:00, na Rádio Nova Aliança.
Desde outubro de 2020, também disponível no podcast Ignatiana.
Palavra de Deus Simone Furquim Guimarães CEBI Encantar a política Evangelho de Lucas Fé e Política Justiça e Paz Leitura popular da Bíblia Política Tempo Comum
Ignatiana Visualizar tudo →
IGNATIANA é um blog de produção coletiva, iniciado em 2018. Chama-se IGNATIANA (inaciana) porque buscamos na espiritualidade de Inácio de Loyola uma inspiração e um modo cristão de se fazer presente nesse mundo vasto e complicado.