Talentos
Simone Furquim Guimarães
Mateus 25,14-30
A leitura do Evangelho hoje é Mt 25,14-30. É conhecida como parábola dos talentos. Jesus fala por meio de parábolas para comparar com o Reino dos Céus. No tempo de Jesus, o talento era a maior medida de valor econômico. E o que é tão valioso assim que deve fazer render mais ainda? A chave de leitura está na advertência que o proprietário dos talentos faz. Ele é conhecido como “Senhor”. Ele vai dizer: “todo aquele que tem (talento) será dado e terá em abundância, mas daquele que não tem, até o que tem lhe será tirado” (v.29).
O “senhor” entregou para cada servo os talentos conforme a capacidade de cada um. Quando retornou, este “senhor” não os pegou de volta. Os talentos passaram a ser daqueles que fizeram render.
O evangelista entendeu que esse “senhor” que viaja para o estrangeiro é Jesus que viaja (referencia à Páscoa) e vai voltar (parousia). Mas antes, confia à seus servos (seguidores/cristãos/igreja) os dons para o crescimento do Reino. Os talentos são os sinais do Reino que devem crescer. Para isso, a atitude deve ser ativa. O “senhor” não pega os talentos de volta. Os sinais do Reino devem ser vividos neste mundo. E deve ser vivido em abundância: “todo aquele que tem (talento) será dado e terá em abundância, mas daquele que não tem, até o que tem lhe será tirado” (v.29). Viver os sinais do Reino é festejar com o “senhor”! Porém, o terceiro servo não compreende e devolve o talento. O terceiro servo vai dizer: “aqui tens o teu talento” (v.25). A sua incompreensão levou-o a “ficar de fora da festa”.
O terceiro servo não quis viver os sinais do Reino por medo do Senhor. Mas o que é este medo? Seria a ideia errada que ele tinha sobre ele? Muitas vezes também nós vivemos uma teologia do medo. O medo cega e paralisa, não constrói. Quantas pessoas vivem com medo do castigo de Deus? Vão à missa ou ao culto, seguem as doutrinas da sua igreja por medo de “ir para o inferno” ou de sofrer aqui um “castigo de Deus”. A teologia do medo não constrói os sinais do Reino, pois não ajuda a enxergar que Deus é Graça. A teologia da Graça nos faz compreender e assumir nossa responsabilidade como cristãos, pois tudo é dom gratuito de Deus, como nos ensinou São Francisco de Assis.
À luz da parábola, possamos ser servos fiéis, acolher os dons que Deus nos dá e fazer render esses dons para construir um mundo melhor, sinal do Reino. Hoje, mais do que nunca, precisamos fazer acontecer o Reino de Deus aqui na terra. Como? Ouvindo os gritos dos excluídos. Daqueles que não têm terra, teto e trabalho. Ouvir e lutar com eles para que alcancem seus direitos plenos. Estes são os talentos que vão se multiplicar.
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Simone Furquim Guimarães é mestre em Teologia na linha bíblica. Tem experiência na área de Leitura Popular da Bíblia no Centro de Estudos Bíblicos (CEBI/Planalto Central).
Esta reflexão bíblica foi originalmente apresentada no Programa de Justiça e Paz, produzido pela Comissão de Justiça e Paz da Arquidiocese de Brasília, que vai ao ar todo sábado, às 11:00, na Rádio Nova Aliança.
Desde outubro de 2020, também disponível no podcast Ignatiana.
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IGNATIANA é um blog de produção coletiva, iniciado em 2018. Chama-se IGNATIANA (inaciana) porque buscamos na espiritualidade de Inácio de Loyola uma inspiração e um modo cristão de se fazer presente nesse mundo vasto e complicado.