Luiz Fernando Krieger Merico

Estamos entrando em uma profunda crise hídrica. Não haverá sociedade, nem tampouco economia, sem um fluxo constante e estável de água para garantir o pleno funcionamento de nossas vidas. Apesar de que isto é um fato claro, facílimo de entender e que está acontecendo em frente aos nossos olhos, parece que somos cegos e insensíveis a esta verdade básica. Seremos, tenho certeza disto, julgados com severidade pelas futuras gerações por nossa profunda irresponsabilidade.

O que se fala pouco nesta crise hídrica, que talvez não seja só uma crise e sim tenha efeitos permanentes, é que a origem dos problemas de abastecimento de água tem origem nas mudanças climáticas que estamos provocando. Não é a toa que em 2015, o papa Francisco lança a encíclica Laudato Sí que coloca as mudanças climáticas no centro de nossa relação com a Criação.

O ciclo da água que nos sustenta, depende do clima – e da circulação de humidade na atmosfera, que depende da existência das florestas, que evaporam a água, depende também da boa saúde dos solos, que armazenam a água das chuvas, e da perenidade dos rios que abastecem os reservatórios. Tudo isto estamos destruindo e colocando fogo.. nunca as ameaças foram tão amplas e tão fortes. Estamos queimando tudo, inclusive o futuro comum. Que mais precisa acontecer para provocar uma mudança de rumos?

A falta de água não é questão isolada. É consequência do desrespeito com os ciclos da vida – desrespeito com a Criação. É pecado mesmo. Pecado social, que não envergonha mais os cristãos. Os cristãos, neste questão, parecem anestesiados. A obra de Deus não lhes parece ser importante. A oração do Século XXI, é sair de seu confortinho, ou medos, e defender abertamente toda a natureza da qual dependemos e que é fundamental para a vida nossa e das futuras gerações. A Laudato Sí já é muito clara sobre isto, mais clara, impossível. Mas quem discute a Laudato Sí em nossos meios cristãos? Poucos, eu diria..

A oração do século XXI é por mãos à obra para defender a Criação.. ameaçada, destruída, queimada. No livro do Gênesis, Deus coloca um anjo no caminho da Árvore da Vida, para guardar aquela que produz frutos para gerações, gerações e gerações. Este anjo, que guarda a Árvore da Vida, somos nós mesmos.

O Movimento Global Católicos pelo Clima, foi transformado hoje em Movimento Laudato Sí, já com uma participação e abordagem ecumênica e ampla. Este Movimento propõe O Tempo da Criação, que é a celebração cristã anual de oração e ação pela nossa casa comum. A família ecumênica ao redor do mundo se une para rezar e proteger a criação de Deus. Este tempo inicia em 1º de setembro, Dia Mundial de Oração pelo Cuidado da Criação, e encerra em 4 de outubro, festa de São Francisco de Assis. Neste ano vamos nos unir em torno do tema “UMA CASA PARA TODOS? RENOVANDO O OIKOS DE DEUS.” Oikos é a palavra grega para “casa” ou “família”. Ao enraizar o nosso tema no conceito de oikos, celebramos a rede integral de relações que sustentam o bem-estar da Terra.  O símbolo deste ano, a tenda de Abraão, simboliza nosso compromisso em salvaguardar um lugar para todos que compartilham nossa casa comum, assim como Abraão fez no Livro de Gênesis. A água é uma ponte de iceberg. Quando começa a faltar água, é porque muita coisa de errado fizemos.

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Luiz Fernando Krieger Merico é graduado em Geologia (UFPR), mestre em Análise Ambiental (UNESP), doutor em Geografia (USP), possui aperfeiçoamento no Schumacher College (Inglaterra) em Economia Ecológica. É autor do livro Mística do século XXI: Guia de Oração com as encíclicas Laudato Si’ e Fratelli Tutti (e-book).

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