Não tenham medo. Ele ressuscitou!
Simone Furquim Guimarães
Marcos 16,1-7
Maria Madalena, Maria, mãe de Tiago e Salomé vão ao sepulcro para ungir o corpo de Jesus, mas o corpo já não está mais lá. Elas viram um jovem vestido com uma túnica branca e ficaram cheias de espanto (com medo). O jovem as anima: Não tenham medo, Jesus ressuscitou! Vai e anunciem!
Uma palavra que marca todo o Evangelho de Marcos é o “medo”, pois o Evangelho é vivido e escrito no período da guerra judaica romana, da dizimação da maior parte dos judeus pelo império romano. O Evangelho é marcado pelo medo da morte.
Não sem razão, a mulher de Betânia, unge os pés de Jesus com um perfume de Nardo (cf. Jo 11,45-53), pois este perfume era um bálsamo usado naquele tempo para amenizar o sentimento do medo diante da morte. Jesus também teve medo do sofrimento e da morte.
Escutar a memória da Paixão e Morte de Jesus, a partir das mulheres que acompanharam a sua “via sacra” e não puderam cuidar e velar seu corpo; é escutar e presenciar a “via sacra” de milhões de pessoas causada pela pandemia da Covid 19 e causada por esse desgoverno que é responsável pelas mortes.
A via sacra do povo de Deus hoje acontece quando não há vacinas; acontece nas filas dos hospitais a espera por leito de tratamento; na tortura por não conseguir respirar e não conseguir aliviar seu sofrimento por falta de insumos, como medicamentos e equipamentos médicos.
Escutamos a dor de mulheres e homens que acompanham a via de sofrimento de seus filhos e filhas mortos e não podem cuidar e velar seus corpos. Cadê os corpos? Estão entulhados em containers…não podem velar e sepultar com dignidade seus entes queridos.
Diante de tantas vias de sofrimentos, quais os sinais de esperança que nos anima e conforta hoje?
O Evangelho de Marcos faz memória desta via sacra, não para desanimar, mas para afirmar que a morte não é o fim último. “Não tenham medo. Ele ressuscitou!”. Morte e ressurreição são acontecimentos muito interligados, que se encaixa um no outro.
Diante do medo da morte, ressuscita também, em vários lugares, mudanças no pensar e no agir. Hoje, mais do que nunca, estamos avaliando nosso comportamento. Existe um despertar para a responsabilidade civil e humanitária. Existe o esperançar da imunização para todos.
Neste sábado de aleluia, que é a expectativa da vida, da ressurreição, recordemos que a morte não é a última palavra de Deus para o ser humano, a última palavra é vida e vida em abundância. Então, busquemos a vida! Vacina já!Não temos óleo de nardo para aliviar o medo, mas podemos superá-lo com as ações preventivas: uso de álcool em gel, máscaras e distanciamento social.
Feliz Páscoa para todos/as!
3 de abril de 2021
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Simone Furquim Guimarães é mestre em Teologia na linha bíblica. Tem experiência na área de Leitura Popular da Bíblia no Centro de Estudos Bíblicos (CEBI/Planalto Central).
Esta reflexão bíblica foi originalmente apresentada no Programa de Justiça e Paz, produzido pela Comissão de Justiça e Paz da Arquidiocese de Brasília, que vai ao ar todo sábado, às 11:00, na Rádio Nova Aliança.
Desde outubro de 2020, também disponível no podcast Ignatiana.
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IGNATIANA é um blog de produção coletiva, iniciado em 2018. Chama-se IGNATIANA (inaciana) porque buscamos na espiritualidade de Inácio de Loyola uma inspiração e um modo cristão de se fazer presente nesse mundo vasto e complicado.