Puro e impuro
Simone Furquim Guimarães
Lucas 5,27-32
Jesus encontra Levi no trabalho de coletar impostos e o chama para seu Seguimento, para ser discípulo dele. Levi aceita e o segue. Em seguida, Lucas narra Jesus fazendo uma refeição na casa de Levi. Os Fariseus e Mestres da Lei murmuram, reclamam daquele gesto de Jesus, pois os cobradores de impostos são impuros para a Lei.
A Boa Notícia hoje anuncia que Jesus rompe definitivamente com a lei do puro e impuro, rompe as “barreiras” que impedem a aproximação das pessoas; impedem o diálogo, a ternura, o pacto de amizade. O gesto de fazer refeição na casa de alguém para a cultura daquele tempo é um pacto de paz e amizade que é selado. Jesus faz amizade com Levi e com os considerados pecadores pelo fundamentalismo religioso daquele tempo.
Aqueles líderes religiosos são fundamentalistas, não se abriram para o projeto de Deus, que é do diálogo, do acolhimento. Por isso, para explicar seu gesto, Jesus usou da própria linguagem daqueles religiosos: “Os que são sadios não precisam de médico, mas sim os que estão doentes. Eu não vim chamar os justos, mas sim os pecadores para a conversão”.
Para aqueles religiosos, justos eram aqueles que seguiam todas as regras da Lei. Mas eram tantas regras impostas para ser “puro” (eram 613 regras), que nem mesmo os próprios líderes religiosos conseguiam cumprir. Jesus rompe com regras que tornam o jugo pesado para a vida das pessoas. Ele foi perseguido por ir contra as regras do exclusivismo religioso, regras que excluem as pessoas do plano de salvação de Deus.
Em sintonia com a Campanha da Fraternidade deste ano, com o tema “Fraternidade e Diálogo: compromisso de amor”, o Papa Francisco convida todos/as os/as fiéis «a “sentar-se e escutar o outro” e, assim, superar os obstáculos de um mundo que é muitas vezes “um mundo surdo”». São as palavras de nosso Papa e que estão em sintonia com a ação de Jesus, que vai a casa, senta, escuta, dialoga.
Que neste período quaresmal, tempo de reflexão e de arrependimento, possamos abrir nosso coração e deixar Deus fazer sua morada; assim como Levi, que seguiu o chamado de Jesus e o convidou a entrar em sua casa. Assim como Jesus, possamos romper com as cegueiras dos preconceitos e acolher as diversidades no diálogo fraterno.
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Simone Furquim Guimarães é mestre em Teologia na linha bíblica. Tem experiência na área de Leitura Popular da Bíblia no Centro de Estudos Bíblicos (CEBI/Planalto Central).
Esta reflexão bíblica foi originalmente apresentada no Programa de Justiça e Paz, produzido pela Comissão de Justiça e Paz da Arquidiocese de Brasília, que vai ao ar todo sábado, às 11:00, na Rádio Nova Aliança.
Desde outubro de 2020, também disponível no podcast Ignatiana.
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IGNATIANA é um blog de produção coletiva, iniciado em 2018. Chama-se IGNATIANA (inaciana) porque buscamos na espiritualidade de Inácio de Loyola uma inspiração e um modo cristão de se fazer presente nesse mundo vasto e complicado.