Quaresma: superar a cultura da violência
Luiz Fernando Krieger Merico
Mística do século XXI — programa nº15
Reflexões a partir das encíclicas
Laudato si’ e Fratelli tutti
A Campanha da Fraternidade Ecumênica 2021 é um convite para viver um jejum que conduz à superação de todas as formas de intolerância, racismo, violências e preconceitos. É um convite à superação da cultura de violência. Quer contribuir para assumirmos outras posturas e a testemunhar com a própria vida que Cristo é a nossa paz, adotando comportamentos de acolhida, de diálogo, de não violência e antirracistas – exatamente como prega a Fratelli Tutti.
Cristo é a nossa paz: do que era dividido fez uma unidade. Esse é o lema da CFE 2021 e foi retirado da Carta à comunidade de Éfeso, uma cidade localizada no Mediterrâneo. No tempo em que a carta foi escrita, estava em curso a política da “Paz Romana”. Era uma paz apenas no nome, porque esta política era uma estratégia do Império Romano para impedir que as pessoas se opusessem às suas leis. Se as pessoas se organizassem para falar sobre a opressão vivida, eram reprimidas à força. Portanto, a Paz Romana, era sinônimo de violência e exploração institucionalizada. Bem diferente da paz que Jesus oferece.
Não há nada que justifique a inimizade e a anulação da diversidade humana. Deus não criou nenhum critério para amar. O texto-base da Campanha da Fraternidade indica que somos quem somos porque Deus nos criou pessoas diversas. Mas a cultura da violência e da divisão segue firme. No Brasil, a pandemia escancarou as desigualdades racial, econômica e social. Cenas de valas comuns sendo abertas, chocaram, mas não o suficiente para as pessoas mudarem seus hábitos e comportamentos. A resistência aos protocolos básicos de controle da pandemia, expôs o quanto ainda precisamos amadurecer no que diz respeito ao amor ao próximo. O retorno do Brasil ao mapa da fome, ao desemprego massivo, ao aumento de pessoas em situação de rua, à cultura de violência contra as mulheres, as pessoas negras, os indígenas, as pessoas LGBTs.. foram expostas pela pandemia.
Continuamos sendo testemunhas de muitos sofrimentos causados pela cultura da violência e de divisão. Existe até um termo novo que foi cunhado recentemente: necropolítica. Na lógica da necropolítica, a humanidade do outro é negada. São estimuladas políticas de inimizade. A Campanha da Fratenidade Ecumênica quer colaborar para superar isto.
As comunidades cristãs são chamadas a serem protagonistas de histórias sem discriminações, preconceitos e violências. Uma comunidade viva e coerente com o Evangelho esforça-se para experimentar esta nova realidade revelada em Cristo, ou seja, sem relações de injustiça, de poder opressor, de desigualdade, abuso e orgulho. Ser coerente com a Boa-Nova é não cair na tentação de praticar a falsa paz da sociedade greco-romana. Como diz a Laudato Si’, a casa comum deve ser um ambiente seguro e feliz para todos os seres vivos. O caminho para a maturidade cristã respeita e acolhe a diversidade e só alcança a plenitude mediante a cooperação mútua.
Em Cristo, a Boa-Nova de paz é oferecida para todas as pessoas a fim de se construir uma nova humanidade, que não esteja dividida, nem orientada pela cultura da violência. A paz em Cristo tem seu fundamento na garantia das condições de vida para todas as pessoas e na transformação de tudo o que impede a existência da Criação. Esta transformação é a esperança de que uma nova humanidade é possível.
Ouça no Podcast Ignatiana
Encíclicas ecofraternais do Papa Francisco
Laudato si’, sobre o cuidado da casa comum (2015)
Fratelli tutti, sobre a fraternidade e a amizade social (2020)
Luiz Fernando Krieger Merico é graduado em Geologia (UFPR), mestre em Análise Ambiental (UNESP), doutor em Geografia (USP), possui aperfeiçoamento no Schumacher College (Inglaterra) em Economia Ecológica. É autor do livro Mística do século XXI: Guia de Oração com as encíclicas Laudato Si’ e Fratelli Tutti (e-book).
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IGNATIANA é um blog de produção coletiva, iniciado em 2018. Chama-se IGNATIANA (inaciana) porque buscamos na espiritualidade de Inácio de Loyola uma inspiração e um modo cristão de se fazer presente nesse mundo vasto e complicado.
Gostei muito a maneira objeiva e simples de uma atualização da metodologia inaciana para os tempos de hoje . Parabéns a toda a eqjuipel.
Irmã Neuzanir religiosa do Cenáculo.
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