A Lei Régia da Escritura
Simone Furquim Guimarães
Resgatar o cuidado com os pobres em nossa sociedade é missão primeira da igreja. A Carta de São Tiago, no capítulo 2, vai lembrar que toda a Escritura é voltada para atender os mais necessitados porque Deus escolheu os pobres. Ele diz que esta é a Lei régia da Escritura: “Amarás teu próximo como a ti mesmo”, e o próximo que ele se refere são os pobres. Certamente, no tempo em que São Tiago escreveu essa carta a comunidade cristã, oriunda do judaísmo, não mais ouvia, muito menos atendia a oração que era feita todos os dias, que está no capítulo 15 do livro do Deuteronômio: “Assim, não deverá haver pobre algum no meio de vocês, pois na terra que o Senhor, o seu Deus, lhes está dando como herança para que dela tomem posse, ele os abençoará ricamente, contanto que obedeçam em tudo ao Senhor, ao seu Deus, e coloquem em prática toda esta lei que hoje lhes estou dando” (Dt 15,4-5).
A comunidade deveria viver esse ensinamento como ortopráxis. Ou seja, a fé era manifestada através de obras, de ações em favor das pessoas mais necessitadas. No Antigo Testamento, os mais pobres eram os órfãos, as viúvas e os estrangeiros. No tempo de Jesus, além dessas categorias, havia os discriminados pela religião, os impuros, os doentes, os cobradores de impostos, as prostitutas, os presos e encarcerados.
Toda a ação e ensinamento de Jesus durante sua vida pública foi o cuidado com os pobres. Podemos ver, por exemplo, no Evangelho de Mateus, na parábola do julgamento, há seis direitos humanos fundamentais lembrados por Jesus. Ele aponta seis necessidades humanas fundamentais: pão, casa, água, roupa, saúde e liberdade. “Tive fome e me destes de comer, tive sede e me destes de beber, estava nu e me vestistes, doente e me curastes, preso e me visitastes” (Mt 25,34-35).
Porém, mais importante do que praticar os atos de piedade judaico-cristã é a construção de uma sociedade justa. Ele vai dizer: “Buscai, em primeiro lugar, seu Reino e sua justiça”. Jesus então, visa construir uma sociedade justa. Caso isso aconteça, “todas essas coisas vos serão acrescentadas”; ou seja: comida, casa, saúde, água. As necessidades básicas da pessoa humana é consequência da construção do Reino de Deus e sua justiça.
Jesus construiu o Reino de Deus enquanto esteve aqui neste mundo. Agora, cabe a nós, cristãos e cristãs, engajarmos na expansão do seu Reino, sobretudo neste tempo de pandemia pelo COVID 19, diante do aumento de pessoas vulneráveis por causa do desemprego, do subemprego, vulneráveis sobretudo às ameaças de contágio desse vírus.
Simone Furquim Guimarães é mestre em Teologia na linha bíblica. Tem experiência na área de Leitura Popular da Bíblia no Centro de Estudos Bíblicos (CEBI/Planalto Central).
Esta reflexão bíblica foi originalmente apresentada no Programa de Justiça e Paz, produzido pela Comissão de Justiça e Paz da Arquidiocese de Brasília, que vai ao ar todo sábado, às 11:00, na Rádio Nova Aliança.
Desde outubro de 2020, também disponível no podcast Ignatiana.
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IGNATIANA é um blog de produção coletiva, iniciado em 2018. Chama-se IGNATIANA (inaciana) porque buscamos na espiritualidade de Inácio de Loyola uma inspiração e um modo cristão de se fazer presente nesse mundo vasto e complicado.