Retiro Quaresmal 2023 — Quinta semana
Pai, rendo-te graças porque me ouviste…
5º Domingo – Dia 26.03
Jo 11, 1-45: “Lázaro, vem para fora.”
Estamos no final da primeira parte do Evangelho de João (caps. 1 a 12). A hora de Jesus se inicia a partir do capítulo 13: É chegada a hora para o Filho do Homem ser glorificado. Em verdade, em verdade vos digo, se o grão de trigo caído na terra não morrer, fica só; se morrer, produzirá muitos frutos.
O relato da ressurreição de Lázaro é um sinal que proclama Jesus como a Ressurreição e a Vida. Quem nele crê tem a vida autêntica: se está morto ressuscita, se está vivo nunca morrerá, O encontro de Jesus com Lázaro é o milagre e o espelho do encontro de Jesus com os homens e com as mulheres: pela fé em Jesus a vida do homem e da mulher torna-se autêntica, abrindo-se para a vida de Deus. Lázaro é a figura de todos nós e de nossa situação. Jesus está diante da morte de um amigo e diante de sua própria morte.
Jesus se entristece, chora e reage, revelando-nos a força de Deus, que estava nele, para beneficiar a todos nós. As três pessoas: Lázaro, Marta e Maria – são a própria humanidade envolta em situações da morte. A doença dele é a doença do mundo, e suas amarras são as amarras de todas as pessoas impossibilitadas de andar e viver. Jesus ressuscita Lázaro não apenas por uma questão de amizade, mas para mostrar que a vitória sobre a morte faz parte do plano salvífico do Pai. Jesus é o instrumento dessa vontade do Pai. Quem nele crê participa já de sua Vida e de sua Ressurreição.
Para Jesus, a morte não é o fim. Há dois modos de ver a morte: um representado por Marta e Maria e o outro por Jesus. Para elas a morte é uma barreira insuportável, intransponível. Para Jesus se assemelha a um sono, do qual será fácil despertar. A finalidade do milagre é revelar algo de Jesus: que “Ele é a Ressurreição e a Vida”.
Segunda-feira – Dia 27.03
Jo 8, 1-11: “Eu também não te condeno. Vai e não peques mais”
A história da mulher surpreendida em adultério nos leva a refletir sobre a nossa própria história quando o mundo quer nos apedrejar por causa das coisas erradas que cometemos ou então, quando apontamos o dedo para alguém a quem consideramos o pior pecador e desejamos também que seja apedrejado, para que se cumpra a lei. Todos nós desejamos que a Lei seja cumprida! No entanto, ao perdoar aquela mulher adúltera, Jesus, o único Santo, O Justo, nos mostra o que precisamos fazer para que se cumpra a Lei de Deus que tem como fundamento a Sua Misericórdia. Nem precisou argumentar muito nem debater com os acusadores daquela mulher, mas, somente com o gesto de escrever na areia e de falar aos circunstantes, Jesus esclareceu: “quem dentre vós não tiver pecado seja o primeiro a atirar-lhe uma pedra”. Assim, Ele conseguiu com que o povo se afastasse a começar pelos mais vividos, mais experientes. Jesus não eximiu a mulher do pecado, mas não a condenou, usou de misericórdia.
Esta é a prova de que só o Senhor conhece o nosso coração, os nossos motivos, as nossas razões. “Eu também não te condeno. Podes ir, e de agora em diante não peques mais!” Nós nunca podemos condenar alguém, porque pecou nem tampouco atirar pedra em alguém que erra. Todos nós, como aquela mulher, poderemos ter a vida completamente transformada por causa do amor e da misericórdia de Deus que se expressa por meio de alguém. Muitas vezes a nossa conversão depende do acolhimento e da compreensão de alguma pessoa que nos revela a face da misericórdia de Jesus. Se Jesus tivesse deixado que apedrejassem a mulher adúltera, ela, com certeza, não teria se convertido. Talvez, pudesse ter se emendado por algum tempo com medo de infringir a lei, no entanto a revolta e a dor permaneceriam dentro do seu coração. Todos nós que desejamos seguir a Jesus precisamos aprender a compreender as fraquezas do nosso próximo e, ao mesmo tempo, ajudá-lo a reencontrar o caminho novo que o Senhor abre por meio da Lei do Amor e da Misericórdia.
Terça-feira – Dia 28.03
Jo 8, 21-30: “Aquele que me enviou está comigo.”
Aparece novamente a conversa baseada na origem e destino de Jesus. A repetição das perguntas e questões revela a incredulidade dos interlocutores. Jesus não pode ser julgado a partir dos critérios meramente humanos, porque ele é do alto, é Deus, pertence ao mundo de Deus.
Jesus atualiza, manifestando que a vida é uma realidade dinâmica. Isso pode incomodar quem está habituado a vê-la de forma estática. A velha atitude de fé em Deus é apresentada de maneira comprometedora, a ponto de nos lançar numa inquietação constante.
Jesus não é um mistério estático, mas aquele que projeta para o futuro. Fazer da fé um código fechado de regras, sem descobrir essa realidade evolutiva, é inversão da mensagem de Jesus e empecilho à felicidade. Aqui aparece claramente o confronto dos dois projetos: Jesus comprometido com o plano do Pai, que é a vida, e os seus adversários com o da morte.
Quarta-feira – Dia 29.03
Jo 8, 31-42: “Jesus disse: Se permanecerdes na minha Palavra, sereis meus verdadeiros discípulos.”
O desejo de ser livre está no íntimo de cada ser humano. O encontro e a aceitação da verdade tornam a pessoa livre. Jesus apresenta-se como a verdade que devolverá a cada um de nos a possibilidade de ser livre, que é condição dos filhos de Deus.
A adesão a Jesus não é feita somente de palavras. Ela exige prática, que pressupõe uma ruptura com o que não está a serviço da vida.
O quarto evangelista, o Evangelho do Joo, fala frequentemente dos judeus que acreditam em Jesus, da multidão. Muitos acreditam nele. Tratam-se de pessoas entusiasmadas com Jesus e com o movimento criado em torno de sua pessoa. Entusiasmo inicial sempre é fácil, mas permanecer nem sempre é fácil.
Quinta-feira – Dia 30.03
Jo 8, 51-59: “Se alguém colocar em prática a minha Palavra, jamais verá a morte.”
Jesus é acusado de samaritano, isto é, de heterodoxo, idólatra, blasfemo e de estar possuído pelo demônio.
A resposta consiste em admitir a estranheza de sua conduta e em justificá-la: seu modo do proceder vem exigindo obediência a Deus. Pelo contrário, a atitude dos incrédulos desonra o Filho, e, em definitivo, o Pai. Em consequência, o Filho será honrado pelo Pai, enquanto seus opositores serão julgados.
A revelação centraliza-se no terreno da vida. Jesus recebeu do Pai o poder de dar a vida. Os judeus, por sua vez, não compreendem, ou entendem a vida física; quanto ao que Jesus está afirmando, é a sua superioridade sobre Abraão e os profetas. A reação dos judeus supõe a convicção de que nada pode ser superior a Abraão e aos profetas.
Sexta-feira – Dia 31.03
Jo 10, 31-42: “Procuravam prender Jesus.”
Aqueles que não creem em Jesus tentam lapidá-lo porque ele teria blasfemado ao declarar-se Filho de Deus.
O mistério de Cristo não pode ser interpretado nas estreitas medidas de nossa mentalidade, condicionada pelas diversas limitações de nossa realidade humana. É pela fé, atitude de diálogo e busca, que se pode obter o encontro com Cristo.
As autoridades judaicas rejeitam Jesus, as suas obras e o próprio Pai, que enviara o seu Filho. Diante disso, procuram prender Jesus outra vez, mas ele escapou de suas mãos.
Esse texto nos faz refletir sobre a “verdadeira liberdade”. Nem sempre somos capazes de suportar a verdade. De algum modo desejamos destruir aquilo que nos incomoda na tentação de ficar com a nossa verdade.
Sábado – Dia 01.04 – Repetição
A oração de cada sábado consiste no exercício chamado de repetição. Trata-se de aprofundar aquilo que rezei durante a semana. Santo Inácio diz: Não é o muito saber que satisfaz a pessoa, mas o sentir e saborear as coisas internamente [EE 2]. Por isso não é apresentada uma nova matéria de oração para este dia. Faço, pois, a oração, a partir do texto ou moção que mais me consolou ou que mais me desolou na semana que passou.
Proposta | Primeira semana | Segunda semana
Terceira semana | Quarta semana
Quinta semana | Semana Santa
Material produzido pelo Pe. Luís Renato Carvalho de Oliveira, SJ.
