Retiro Quaresmal 2023 — Terceira semana
Senhor, dá-me desta água…
3º Domingo – Dia 12.03
Jo 4, 5-42: “Senhor, vejo que és profeta.”
A liturgia deste domingo traduz a temática da água, transformando-se em um fio condutor com que se descreve o itinerário do homem, desde sua sede até a fonte que contém água viva, a vida.
A finalidade desse texto é quebrar as barreiras que impedem os homens de se relacionarem. Essas barreiras podem ser de ordem religiosa, política e econômica ou de qualquer outra ordem.
A samaritana somos todos nós, sedentos em busca da fonte de onde podemos “tirar água”. Ela conhece o dom de Deus, acolhe a água viva, tem fé em Jesus, tem o amor de Deus derramado em seu coração na medida em que passa por uma transformação e conversão profunda.
Do diálogo de Jesus com a Samaritana, brotam afirmações básicas para quem quer segui-lo de perto: a) Jesus é a novidade absoluta. Não veio apenas para aperfeiçoar ou corrigir o que existia, mas proclamar o início de uma relação nova e profunda entre Deus e o homem; b) Jesus traz a verdade, isto é, a realidade anunciada por essa figura. O culto autêntico e definitivo revela-se na pessoa de Jesus; c) o primeiro passo da fé é reconhecer a superioridade de Jesus sobre leis, patriarcas e profetas de ontem e de hoje. Essa presença de Jesus perto do homem é viva e até incômoda, porque ele questiona a vida humana e não permite que o homem pergunte por Deus sem se interrogar sobre o próprio modo de viver.
A samaritana optou pelo dom de Deus, pela vida, experiência que a marcou a ponto de transformá-la em testemunha e missionária dessa mesma vida junto de seus concidadãos.
Segunda-feira – Dia 13.03
Lc 4, 24-30: “Em verdade vos digo: nenhum profeta é bem aceito na sua pátria.”
Jesus, depois de algum tempo em territórios estrangeiros, voltou à sua terra natal. Sentindo-se à vontade na Sinagoga, leu um trecho do profeta Isaías, sobre a maneira como seria o Messias, e, então, revelou que aquela profecia se referia a Ele próprio. A princípio, “Todos lhe davam testemunho e se admiravam das palavras de graça, que procediam da sua boca”. Os fariseus, porém, cheios de inveja, perguntavam: “Não é este o filho de José?”, e, após isso, expulsaram-no daquela aldeia com violência. Sua expectativa era a de que o Messias fosse rico, com exército, palácio, etc… O Mestre, então, citou-lhes trechos do Antigo Testamento nos quais se lia que os estrangeiros tinham recebido a Palavra de Deus muito mais depressa que os israelitas que se convertiam. Acontece, também em nossos dias, fatos semelhantes. Muitos ateus, por exemplo, ajudam mais depressa os necessitados do que nós, seguidores de Cristo.
Terça-feira – Dia 14.03
Mt 18, 21-35: “Senhor, quantas vezes devo perdoar, se meu irmão pecar contar mim? Até sete vezes?”
Tempo de Quaresma é tempo de arrependimento e de perdão. Deus perdoa. Estamos despostos a perdoar setenta vezes sete vezes? É preciso perdoar sempre para poder ser perdoado. O perdão é tão importante que já se tornou uma prática terapêutica. Estresse, saúde mental, saúde cardíaca, sistema imunológico, tudo melhora, dizem os especialistas. De fato, tudo melhora quando estamos em paz conosco, com os outros e com Deus.
Quarta-feira – Dia 15.03
Mt 5, 17-19: “Aquele que guardar e ensinar os mandamentos será declarado grande no Reino dos Céus.”
O contexto vital dessas palavras, que Mateus coloca na boca de Jesus, é preciso procurá-lo nas diferentes opiniões que existiam entre os primeiros cristãos sobre a interpretação da Lei de Moisés. A questão que se colocava era: todos estavam obrigados a cumprir esses preceitos ou haviam sido abolidos por Jesus?
Essa passagem é de grande interesse do ponto de vista histórico-teológico. A expressão “a Lei e os profetas” era usada na época de Jesus para significar a Escritura (Antigo Testamento). A Lei (hebraico Torah) abrangia os cinco primeiros livros da Bíblia, também chamados de Pentateuco. Os profetas ocupavam não somente os livros proféticos, mas também os livros históricos que os judeus os classificam de profetas anteriores.
A expressão Eu, porém, lhes digo, vem interiorizar a Lei que será escrita não em tábuas de pedra, mas na carne, no coração dos homens. Deste modo, a nova lei discernirá o mal pela sua raiz, no coração, e não apenas quando se manifesta nas atitudes externas.
Quinta-feira – Dia 16.03
Lc 11. 14-23: “Todo reino dividido internamente será destruído…”
Jesus operava os milagres no meio do Seu povo, mas os homens não O reconheciam como enviado do Pai e duvidavam do Seu poder. Eles viam os acontecimentos, mas não “enxergavam” o porquê de tantas maravilhas, por isso, diante dos prodígios de Jesus eles se confundiam e atribuíam tudo ao “dedo de Belzebu”, o príncipe dos demônios. A incredulidade encobria os seus olhos! Hoje, nós até os criticamos por causa da sua “falta de fé”, no entanto, precisamos ter consciência de que também nós temos dificuldades em admitir o poder de Deus na nossa vida. Da mesma maneira que eles, nós também apreciamos as coisas pelas aparências e com os olhos da “carne”.
Somos pessoas questionadoras, intrigantes e não percebemos que os sinais do céu estão presentes nos pequenos e grandes milagres que Deus realiza dentro de nós. Se parássemos mais para refletir também iríamos ver o “dedo de Deus” agindo em nós a partir do bem que praticamos e vivenciamos. Por esta razão o reino de Deus acontece no coração de todos aqueles que percebem os Seus prodígios e milagres na sua vida e acolhem de coração o poder do Espírito Santo. Não devemos nos confundir ou questionar! Se agirmos em Nome de Jesus, as consequências naturalmente serão do bem e não do mal. O Bem vem de Deus, o mal é decorrência do pecado. Reconhecer o dedo de Deus nos milagres da nossa vida é também distinguir a chegada do reino de Deus e tê-Lo como nosso guardião e defensor. Precisamos estar atentos às nossas ações para saber a quem estamos servindo.
Sexta-feira – Dia 17.03
Mc 12, 28b-34: “Ouve, Israel! O Senhor nosso Deus é um só. Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, com toda a tua alma, com todo o teu entendimento, e com toda a tua força!”
Amar a Deus sobre todas as coisas e o próximo como a si mesmo, esta é a síntese de todos os mandamentos. Quem ama de verdade cumpre toda a lei e não erra nas decisões que toma, porque tudo o que faz é feito por amor. Vinculando o amor a Deus com o amor ao próximo evitamos a falsificação da noção de Deus. Ninguém nunca viu a Deus, por isso dele temos apenas uma noção. O que podemos saber com mais consistência nos vem do Filho único que está no seio do Pai e no-lo deu a conhecer, ao se fazer homem e ter vindo morar entre nós. Vemos a humanidade de Jesus Cristo, não a sua divindade, e em sua humanidade vemos a toda a humanidade. Por isso, não podemos dizer que amamos a Deus a quem não vemos se não amamos o irmão a quem vemos. Se o amor ao próximo não faz parte do amor a Deus, nós nos tornamos fanáticos executores das ordens de um Deus que nossa imaginação criou. Amar o próximo como Jesus amou.
Sábado – Dia 18.03-Repetição
A oração de cada sábado consiste no exercício chamado de repetição. Trata-se de aprofundar aquilo que rezei durante a semana. Santo Inácio diz: Não é o muito saber que satisfaz a pessoa, mas o sentir e saborear as coisas internamente [EE 2]. Por isso não é apresentada uma nova matéria de oração para este dia. Faço, pois, a oração, a partir do texto ou moção que mais me consolou ou que mais me desolou na semana que passou.
Proposta | Primeira semana | Segunda semana
Terceira semana | Quarta semana
Quinta semana | Semana Santa
Material produzido pelo Pe. Luís Renato Carvalho de Oliveira, SJ.
