Retiro Quaresmal 2023 — Quarta semana
Os que não veem, vejam, e os que veem se tornem cegos…
4º Domingo – Dia 19.03
Jo 9, 1-41: “O cego foi, lavou-se e voltou enxergando.”
O evangelho de João segue um esquema bem diferente do utilizado pelos Sinóticos: Marcos, Mateus e Lucas. João narra apenas dois milagres relatados também pelos outros evangelhos, a saber, a multiplicação dos pães e Jesus caminhando sobre as águas. O milagre do cego de nascença é contado, portanto, somente por João. O autor diz que escreveu o seu evangelho para que crêssemos que Jesus é o Messias, o Filho de Deus, e, crendo tivéssemos a vida em seu nome.
Assim, com a narração do cego do nascença, quer mostrar que Jesus é a vida e a luz do mundo: dá a luz ao cego de nascença, em contraste com a cegueira espiritual dos judeus. Percebe-se, no interior da narrativa, a argumentação encadeada para levar o leitor a adorar Jesus como o Filho de Deus.
O texto era destinado a catequese dos que iam ser balizados. Da sujeira e da lama do pecado, erguiam-se os novos cristãos, depois de se terem lavado – como o cego – nas águas puras do Batismo. Evidentemente não bastava ao rito do Batismo em si. Era necessária a fé em Jesus e a adesão irrestrita a sua doutrina, acreditando na preexistência de Jesus e como sendo a Palavra na qual o Pai se revelou.
Segunda-feira – Dia 20.03
Jo 4, 43-54: “Vai, teu filho está vivo.”
O ser humano está sempre á procura da fé. Um homem odiado pelos judeus por ser pagão, um membro da família real, por estar serviço dos não menos odiados da casa real de Herodes. Dirige-se a Jesus e faz o pedido da cura do filho. O centro da narrativa está nos verbos “crer” e “vi ver”. Observa-se nesse relato um progresso na fé por parte do Pai, de uma confiança em que Jesus possa curar o seu filho, fé na Palavra de Jesus, fundada unicamente em sua autoridade.
O relato nos mostra que a confiança total em Jesus faz milagres. Ter fé significa aceitar a Jesus com todos os riscos que isso possa acarretar.
E há ainda outra característica, a fé nos abre para o diálogo e nos dá a certeza de que Jesus está no meio de nós, construindo conosco a história de nossas vidas.
O oficial crê na Palavra de Jesus. A sua fé é confirmada pelo milagre, anunciado a eles pelos servos que lhe vêm ao encontro. A fé desse oficial passa por toda a família.
Terça-feira – Dia 21.03
Jo 5, 1-16: “Levanta-te e anda.”
O doente ficou curado e liberto pela ação de Jesus. O aspecto importante dessa cura é que Jesus toma a iniciativa, diante da passividade desse enfermo.
Muitas vezes, a severa interpretação de costumes e leis nos faz perder a oportunidade de ficar livres dos males que nos afetam. A atitude de Jesus manifesta sua constante iniciativa de salvar o que estava perdido. Para Deus sempre há uma possibilidade de libertação. Aqueles que preferem ficar à margem perdem a possibilidade de um encontro salvador com Deus.
A libertação de Jesus consiste em uma total renovação de nosso ser à imagem do Criador. É por essa razão que ele não fica satisfeito apenas com a libertação do paralítico. Essa libertação é somente parte de uma salvação maior. Encontrando-o mais tarde no Templo, Jesus chamou-o para uma conversão dos pecados, a fim de que a libertação pudesse ser autêntica.
Quarta-feira – Dia 22.03
Jo 5, 17-30: “Meu Pai trabalha sempre, e eu também trabalho.”
O Pai e o Filho são para nós um modelo de Unidade e de Comunhão no Amor. Um não é maior que o outro nem tampouco nenhum deles deseja superar o outro. Neste Evangelho Jesus nos revela que há uma interação perfeita na obra que a Santíssima Trindade realiza em nós, da mesma forma como acontece o trabalho do Pai e do Filho pelo poder do Espírito Santo. Podemos apreender que o Filho trabalha em comunhão com o Pai e tudo que Ele faz é dirigido pelo Pai. Assim sendo, Jesus (o Filho) faz apenas o que vê o Pai fazer e a vida do Pai, é a vida do Filho e tudo acontece entre Eles por força do Amor. O Amor entre o Pai e o Filho é o Espírito Santo que mora em nós e é quem nos induzirá a fazer todas as coisas como Jesus fazia, a exemplo do Seu Pai. O Pai é modelo para o Filho e é desejo do Filho ser como o Pai.
A Santíssima Trindade nos convida a mergulhar no Seu Amor. Somos também chamados a incorporar em nós este exemplo de justiça e santidade aprendendo com Jesus e crendo Nele para que possamos possuir em nós a vida eterna. Jesus proclama a Sua Unidade com o Pai e a sua dependência à vontade do Pai. A grande verdade que deve nortear a nossa vida é a de que Jesus veio ao mundo para nos ligar ao Pai e para que tenhamos a vida eterna desde já. A vida eterna depende da nossa adesão ao projeto de Jesus crendo na Sua Palavra e não duvidando do Seu poder. Possuir a vida em si mesmo é possuir a vida divina. Fomos feitos à imagem e semelhança do Pai, portanto, nós também, unidos a Jesus, nos unimos ao Pai e o Seu poder permanece em nós. Não precisamos nos admirar, é palavra de Deus e aqueles que a acolhem já sentem o seu efeito na sua vida diária. –
Quinta-feira – Dia 23.03
Jo 5, 31-47: “O testemunho a favor de Jesus.”
A narrativa do evangelho de hoje apresenta as testemunhas de Jesus. Diante do decreto da morte promulgado pelas autoridades judaicas, aparecem as testemunhas que depõem a favor de Jesus: João Batista, o Pai, a Escritura.
Jesus reconhece em João Batista uma testemunha da verdade. Ele afirma, porém, que o testemunho mais autorizado é dado por sua divindade.
Esse testemunho é o que o Pai dá ao Filho pelas obras que este realiza. O testemunho da verdade de Jesus é, antes de tudo, o próprio Jesus nas obras que realiza. São obras de poder e de amor, obras de sabedoria e de santidade que ultrapassam as possibilidades de um homem.
Por essas obras, o Pai dá testemunho de Jesus, isto é, designa-o a nossa confiança. Esse testemunho ó o que Cristo dá a si mesmo. Testemunha por sua Palavra e reivindica por seus comportamentos uma autoridade divina.
Sexta-feira – Dia 24.03
Jo 7, 1-2. 10. 25-30: “Jesus é o Messias.”
O relato do evangelho de hoje procura eliminar a dificuldade para aceitar a doutrina de Jesus: sua origem humana. Isso não deveria ser obstáculo para a fé, já que nos lábios de Jesus sua origem humana é o que menos importa. Ele veio de Deus e tem nele sua verdadeira origem. Esta afirmação divide os cristãos: uns se inflamam no ódio a Jesus para eliminá-lo, outros o aceitam.
Nos últimos dias da vida pública de Jesus, já era obvio que as autoridades tencionavam matá-lo. Diante da iminência de sua perseguição e da rápida aproximação de seu martírio, Jesus adota uma atitude que serve de modelo para os cristãos perseguidos.
Jesus não procura livremente o martírio, mas permanece fiel a sua missão de ensinar a verdade, mesmo arriscando a vida em Jerusalém, na época em que sua hora havia chegado.
Sábado – Dia 25.03 – Repetição
A oração de cada sábado consiste no exercício chamado de repetição. Trata-se de aprofundar aquilo que rezei durante a semana. Santo Inácio diz: Não é o muito saber que satisfaz a pessoa, mas o sentir e saborear as coisas internamente [EE 2]. Por isso não é apresentada uma nova matéria de oração para este dia. Faço, pois, a oração, a partir do texto ou moção que mais me consolou ou que mais me desolou na semana que passou.
Proposta | Primeira semana | Segunda semana
Terceira semana | Quarta semana
Quinta semana | Semana Santa
Material produzido pelo Pe. Luís Renato Carvalho de Oliveira, SJ.
