O sentido da Páscoa
Simone Furquim Guimarães
Estamos na segunda semana litúrgica da Páscoa. A leitura hoje é Jo 6, 16-21. A igreja segue as riquíssimas reflexões elaboradas pelos primeiros cristãos sobre o sentido da Páscoa. E quem mais nos ajuda a entender este sentido é o Evangelho de João, sobretudo no capítulo 6.
O início no capítulo nos relata sobre a multiplicação dos pães. E a leitura de hoje informa que após a multiplicação dos pães, os discípulos entram no barco e atravessam o mar da Galileia. Um vento forte e a tempestade lhes causam medo. O medo aumenta quando veem Jesus caminhando sobre o mar. Jesus, porém lhes diz: “Sou eu. Não tenham medo”.
O vento forte e a tempestade representam todo poder autoritário gerador da opressão e da morte; representa também o caos. O Evangelho de João trás muitos elementos simbólicos do Antigo Testamento para nos conduzir ao entendimento profundo sobre Jesus Cristo.
Lembremos que no mito da Criação, em Gênesis 1, o narrador relata que, no princípio do criar, Deus observa que há trevas e um vento muito forte sobre as águas (como a tempestade deste texto). Deus acende a luz para interromper a tempestade e então a partir daí ele passa a criar. O mito da criação é a expressão da vida nova criada por Deus. Vida nova, após as trevas e caos da destruição de Jerusalém por Nabucodonosor, rei da Babilônia. O mito foi escrito nesse período.
Para os primeiros cristãos, o mar era símbolo do caos e medo porque era pelo mar que chegavam as legiões de soldados romanos que destruíram novamente Jerusalém. Mas aqui neste texto, João informa que Jesus caminha sobre o mar; isto é, Jesus tem poder sobre o mar, sobre o caos formado pelo império romano.
O Evangelho quer nos revelar que Jesus venceu o poder da morte: ele ressuscitou! E João aprofunda mais sobre a pessoas de Jesus: ele revela Jesus como Deus: “Eu sou. Não tenham medo”. João lembra aqui a passagem na sarça ardente, no livro do Êxodo, onde Deus se revela como “Eu sou, eu estou com vocês”.
Como a teologia joanina nos anima hoje, em nossa realidade?
Assim como os primeiros cristãos, que passaram a enxergar Jesus como o Pão da Vida, a vida nova em Cristo; hoje, também nós, possamos renovar a nossa fé e sermos fiéis ao seu Seguimento, praticando o que ele nos ensinou: a partilha, a solidariedade, a igualdade e a justiça social.
Hoje, contra todas as forças que produz o medo e a morte, nós também podemos, diante da Boa Notícia, abrir nossos olhos e enxergar em Jesus Cristo aquele que “de tão humano só pode ser Divino”.
Ouça no Podcast Ignatiana [link]
Simone Furquim Guimarães é mestre em Teologia na linha bíblica. Tem experiência na área de Leitura Popular da Bíblia no Centro de Estudos Bíblicos (CEBI/Planalto Central).
Esta reflexão bíblica foi originalmente apresentada no Programa de Justiça e Paz, produzido pela Comissão de Justiça e Paz da Arquidiocese de Brasília, que vai ao ar todo sábado, às 11:00, na Rádio Nova Aliança.
Desde outubro de 2020, também disponível no podcast Ignatiana.
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IGNATIANA é um blog de produção coletiva, iniciado em 2018. Chama-se IGNATIANA (inaciana) porque buscamos na espiritualidade de Inácio de Loyola uma inspiração e um modo cristão de se fazer presente nesse mundo vasto e complicado.