Pai Misericordioso
Simone Furquim Guimarães
A leitura do Evangelho hoje é Lc 15,1-3.11-32.
Os fariseus e escribas reclamam porque Jesus acolhe e come com publicanos e pecadores (v.1-3). Em resposta a esses murmúrios, Jesus conta a parábola do filho pródigo para fazer com que esses fariseus e escribas enxergassem que eles estavam agindo tal como o filho mais velho da parábola: exigindo exclusividade de privilégios com Deus (v.29). Jesus revela para eles e para nós que Deus é como um pai misericordioso da parábola!
Aqueles líderes religiosos consideravam serem os mais próximos de Deus por estarem sempre na “casa do Pai”; ou seja, nos templos e sinagogas. Porém, fechados em seus ritualismos rigorosos; suas leituras absolutistas sobre Deus, não se abriram para o verdadeiro conhecimento de Deus: “que é amor e misericórdia”. Assim como o filho mais velho, os fariseus não conheciam verdadeiramente o sentimento do Pai, que é ver todos seus filhos reunidos como irmãos em seu Reino.
A resposta de Jesus para os fariseus tem finalidade de romper com pensamentos e estruturas engessadas do poder dominante que exclui as pessoas do plano de salvação de Deus. Isto implica em conhecer e revelar a face terna e misericordiosa de Deus em nossa vida e em nossas relações; nem excluindo, nem segregando as pessoas por suas diferenças. Todos somos irmãos, filhos do mesmo Pai.
Nesta semana de memória às lutas das mulheres, é importante também varrer do chão da Bíblia toda interpretação que violenta e exclui as mulheres e revelar todas as leituras que inclui o papel protagonista e as representatividades femininas de Deus. Este é um esforço importante para que possamos resgatar o valor da mulher na Bíblia e as mulheres de hoje, e empoderar as mulheres de nossa realidade.
Fazendo assim, vamos visualizar todo o capítulo 15 do Evangelho de Lucas. Há três parábolas que querem revelar a misericórdia de Deus: Deus como o pastor (cf. vv. 4-7), Deus como a mulher que varre a casa (cf. vv.8-10) e Deus como pai misericordioso (cf. vv.11-32). Perceba que a parábola que representa Deus como feminino está no centro do capítulo. Isto não foi colocado aleatoriamente: era um recurso literário muito usado pelos povos da Bíblia, chamado de quiasma concêntrico. Era para que os ouvintes centrassem valor no que está no meio, assim como num sanduíche.
O evangelista Lucas também usou desse recurso ao dizer que Jesus quis mostrar aos fariseus e escribas que Deus também é como uma mulher que cuidadosamente busca o que perdeu e faz festa quando encontra. Na Bíblia, temos muitas representações de Deus como feminino, porém, infelizmente, foi apagada e silenciada de nossas catequeses… Por isso, devemos resgatar essa representatividade de Deus. E esta parábola da moeda perdida também nos ajuda a questionar assim: o que perdemos ao ler os textos bíblicos? Nesta parábola que diz que Deus é como uma mulher que varre a casa – que não é lida em nossas igrejas, bem como não há iconografia representativa – vamos encontrar o protagonismo do feminino e vamos fazer festa e celebrar; assim como a mulher-Deus fez: e esta festa é celebrada junto com as amigas, não se celebra sozinha!
Que ao longo do mês de março, possamos aprender com Jesus, com as comunidades cristãs e com as lutas das mulheres; para enfim, festejarmos juntas e juntos a conquista de relações de igualdade e equidade. Amém!!!
Ouça no Podcast Ignatiana [link]
Simone Furquim Guimarães é mestre em Teologia na linha bíblica. Tem experiência na área de Leitura Popular da Bíblia no Centro de Estudos Bíblicos (CEBI/Planalto Central).
Esta reflexão bíblica foi originalmente apresentada no Programa de Justiça e Paz, produzido pela Comissão de Justiça e Paz da Arquidiocese de Brasília, que vai ao ar todo sábado, às 11:00, na Rádio Nova Aliança.
Desde outubro de 2020, também disponível no podcast Ignatiana.
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IGNATIANA é um blog de produção coletiva, iniciado em 2018. Chama-se IGNATIANA (inaciana) porque buscamos na espiritualidade de Inácio de Loyola uma inspiração e um modo cristão de se fazer presente nesse mundo vasto e complicado.