Luiz Fernando Krieger Merico

O clima é um bem comum, um bem de todos e para todos. A nível global, é um sistema complexo, que tem a ver com muitas condições essenciais para a vida humana. Há um consenso científico muito consistente, indicando que estamos perante um preocupante aquecimento do sistema climático. Nas últimas décadas, este aquecimento foi acompanhado por uma elevação constante do nível do mar, com o aumento de acontecimentos meteorológicos extremos. A humanidade é chamada a tomar consciência da necessidade de mudanças de estilos de vida, de produção e de consumo, para combater este aquecimento.

Este texto acima não é de nenhum artigo científico ou de alguma organização ambientalista. É da encíclica Laudato Sí, escrita no ano de 2015 pelo papa Francisco. De lá para cá, a situação só piorou.

Relembro aqui que incontáveis estudos científicos indicam que o aquecimento global das últimas décadas é devido à alta concentração de gases com efeito de estufa (dióxido de carbono e metano, principalmente) emitidos sobretudo por causa de atividades humanas. Concentrando-se na atmosfera, estes gases dificultam a evasão do calor que a luz do sol produz sobre a superfície da terra. Isto é agravado pelo uso de combustíveis fósseis – a gasolina, o óleo diesel. No caso de países como o Brasil, incidem também a prática desnecessária de desmatamento e as queimadas associados ao nosso modelo de agricultura e de produção de carne.

As advertências nos dizem, com muita margem de segurança, que as temperaturas devem subir entre 1,5 e 2 graus no planeta por volta de 2027. Isto quer dizer que quase não há mais tempo para nos prepararmos. Já estamos dentro das mudanças climáticas. Assistimos todos e todas, horrorizados o que aconteceu semanas atrás no litoral de São Paulo. Vimos, em poucas horas, uma chuva de quase 700 milímetros. Você sabe o que é isso? O cálculo é feito por metro quadrado. Significa que choveu em 1 metro quadrado, o equivalente a quase 700 litros de água. É claro que isto não é normal. Não há nenhum lugar do mundo que suporte tanta chuva em tão pouco tempo.

Os eventos extremos – como este de São Paulo – sinalizam uma mudança na estrutura do clima. Muitos chamam isto de “o novo normal”, querendo dizer que estes acontecimentos deverão ser cada vez mais frequentes, anuais até. Quando uma coisa se torna “normal” a sociedade tende a não mais dar atenção ao fato, como se ele fosse agora “normal” ou simplesmente, parte de nossa realidade.

Eu convido você, que está ouvindo ou lendo esta exposição, que se recuse a achar que tudo isto seja normal. Não é. A destruição de nosso equilíbrio climático tem que ser revertida e nós temos que ser proativos nesta tarefa e evitar de entregar aos nossos jovens a às nossas crianças um mundo tóxico, destruído, onde se multiplicam as mortes e o sofrimento.

Nós ainda podemos ser parte das soluções. O primeiro passo para isto é evangelizar. Eu convido ainda você a evangelizar o seu entorno, defendendo nosso sistema de suporte da vida – o mundo que recebemos como dom. É necessário falar com nossas famílias, nossos amigos, em nosso trabalho, falar com os vizinhos e tornar as mudanças climáticas um assunto de todos nós! Isto é evangelização. É o que faz a encíclica Laudato Sí. Assumamos como nossa, de cada um de nós, a tarefa de chamar a atenção das pessoas ao nosso redor. É possível boicotar produtos que produzam muitas emissões, é possível reduzir consumo de produtos que afetam o clima, é possível mudar nossa agricultura, apoiar as energias renováveis, andar mais a pé, recusar o uso de plásticos. Mas sobretudo, é necessário que falemos sobre as mudanças climáticas. Com todos e todas em todos os lugares.

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Luiz Fernando Krieger Merico é graduado em Geologia (UFPR), mestre em Análise Ambiental (UNESP), doutor em Geografia (USP), possui aperfeiçoamento no Schumacher College (Inglaterra) em Economia Ecológica. É autor do livro Mística do século XXI: Guia de Oração com as encíclicas Laudato Si’ e Fratelli Tutti (e-book).

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