O genocídio Yanomami

Luiz Fernando Krieger Merico

Mística do século XXI — programa nº40

Reflexões a partir das encíclicas
Laudato si’ e Fratelli tutti

O povo Yanomami chegou muito perto de sua extinção total. O descaso de nosso país com as comunidades indígenas é assustador. Assustador porque cada vez que um povo ou uma etnia é ameaçada, ficamos mais pobres: humanamente, culturalmente, ambientalmente e espiritualmente. As terras indígenas no Brasil têm demonstrado continuamente que são as mais protegidas da destruição. Destruir nosso conhecimento milenar é prova de degradação de nossa sociedade. Infelizmente, nem todos concordam com isso. Muitos pregam abertamente a extinção de qualquer povo indígena ou originário, ou são vergonhosamente omissos.  

Na esteira da encíclica Laudato Sí, ao final do Sínodo Amazônia, o papa Francisco, em fevereiro de 2020, publicou uma Exortação Apostólica Pós-Sinodal com o título Querida Amazônia. Eu ressaltei essa exortação apostólica aqui neste espaço em nosso episódio passado em que conversávamos sobre os rios voadores.  As exortações são orientações aos cristãos e cristãs, para seguirem mais fielmente o evangelho de Jesus. Os participantes do Sínodo expressaram uma profunda consciência da dramática situação de destruição que afeta a Amazônia. Isso significa o desaparecimento do território e de seus habitantes, especialmente dos povos indígenas.

Diz o papa Francisco na carta Querida Amazônia que as culturas ancestrais dos povos nativos nasceram e se desenvolveram em estreito contacto com o ambiente natural circundante, e dificilmente podem ficar ilesas quando se deteriora este ambiente. E isto requer que a humanidade tome consciência cada vez mais das ligações existentes entre a ecologia natural, ou seja, o respeito pela natureza, e a ecologia humana. Tudo está interligado.  Se o cuidado das pessoas e o cuidado dos ecossistemas são inseparáveis, isto torna-se particularmente significativo porque a floresta não é um recurso para explorar, é um ser, ou vários seres, com os quais se relacionar.

A sabedoria dos povos nativos ou originários deveria nos inspirar para o cuidado e o respeito pela criação, com clara consciência dos seus limites. Abusar da natureza significa abusar dos antepassados, dos irmãos e irmãs, da criação e do Criador. Os indígenas quando permanecem nos seus territórios, reconhece o papa, são quem melhor os cuidam. Em uma realidade cultural como a Amazónia, onde existe uma relação tão estreita do ser humano com a natureza, a vida diária tem sempre uma dimensão cósmica. A entrada do garimpo nos ecossistemas só produz a desorganização do ambiente, da cultura, da saúde, da alimentação, das famílias. Certamente sobra dinheiro na mão de algum mandante do garimpo.. mas o resto é só desespero e destruição. Este tipo de economia não interessa à humanidade. É uma deseconomia.. pois destrói e elimina qualquer outra possibilidade de produzir e viver.

Diz ainda o papa Francisco na exortação Querida Amazônia que o Senhor, que primeiro cuida de nós, ensina-nos a cuidar dos nossos irmãos e irmãs e do ambiente que Ele nos dá de presente cada dia. Esta é a primeira ecologia que precisamos. Nenhum cristão ou cristã pode ficar indiferente à destruição do povo Yanomami ou de qualquer outro povo indígena. A indiferença é omissão. É grave omissão. Ou proativamente tomamos como nossas a defesa e as dores de todos os povos e suas culturas, ou não deveríamos ser chamados de seguidores de Jesus.


Ouça no Podcast Ignatiana [link]

Encíclicas ecofraternais do Papa Francisco

Laudato si’, sobre o cuidado da casa comum (2015)
Fratelli tutti, sobre a fraternidade e a amizade social (2020)

Luiz Fernando Krieger Merico é graduado em Geologia (UFPR), mestre em Análise Ambiental (UNESP), doutor em Geografia (USP), possui aperfeiçoamento no Schumacher College (Inglaterra) em Economia Ecológica. É autor do livro Mística do século XXI: Guia de Oração com as encíclicas Laudato Si’ e Fratelli Tutti (e-book).

Ecologia Economia Mística do século XXI

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IGNATIANA é um blog de produção coletiva, iniciado em 2018. Chama-se IGNATIANA (inaciana) porque buscamos na espiritualidade de Inácio de Loyola uma inspiração e um modo cristão de se fazer presente nesse mundo vasto e complicado.

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