Rios voadores
Luiz Fernando Krieger Merico
Mística do século XXI — programa nº39
Reflexões a partir das encíclicas
Laudato si’ e Fratelli tutti
Ao final do Sínodo Amazônia, o papa Francisco em fevereiro de 2020, publicou uma Exortação Apostólica Pós-Sinodal com o título “Querida Amazônia”. A Amazônia é um grande bioma partilhado por nove países: Brasil, Bolívia, Colômbia, Equador, Guiana, Perú, Suriname, Venezuela e Guiana Francesa. Francisco dirigiu esta Exortação ao mundo inteiro, para ajudar a despertar a estima e as soluções por esta terra, convidando-o a admirá-la e reconhecê-la como um mistério sagrado; e, por outro lado, porque a atenção da Igreja às problemáticas da Amazônia podem servir de inspiração para outras regiões enfrentarem os seus próprios desafios.
Todos os participantes do Sínodo expressaram uma profunda consciência da dramática situação de destruição que afeta a Amazônia. Isso significa o desaparecimento do território e de seus habitantes, especialmente dos povos indígenas. A floresta amazônica é um “coração biológico” de um planeta cada vez mais ameaçado. Este bioma se encontra em uma dinâmica desenfreada de destruição. Requer mudanças radicais urgentes e um novo direcionamento que permita salvá-la. Está cientificamente comprovado que a fragilização do bioma Amazônia trará um impacto catastrófico para o planeta!
A água e a terra desta região alimentam e sustentam a natureza, a vida e as culturas de inúmeras comunidades indígenas, camponesas, afrodescendentes (quilombolas), caboclos, assentados, ribeirinhos e habitantes dos centros urbanos. A água, fonte de vida, possui um rico significado simbólico. Na região amazônica, o ciclo da água é o eixo de interligação. Interliga ecossistemas, culturas e o desenvolvimento do território. Mas a água da Amazônia não é importante apenas para a Amazônia… é fundamental para todo o nosso continente.
A umidade da Amazônia evapora para a atmosfera e é empurrada pelos ventos que vem do Atlântico sobre todo o nosso continente – de norte a sul. Desta maneira, mais água é transportada pelo ar, do que pela terra – por causa da transpiração da floresta. Este vapor transferido – esta umidade – abastece a América do Sul, e este processo é conhecido como Rios Voadores. Os rios voadores transportam mais água do que a que sai pelo rio Amazonas no oceano Atlântico. Toda a nossa região sul-americana depende desta água. A agricultura na Argentina, a pecuária no Uruguai, todos os sistema de produção no Brasil, incluindo a bacia do Rio São Francisco, a Bolívia, Perú, Colombia, Venezuela.. todos dependemos desta distribuição de umidade que abastece nossos países, suas cidades e suas indústrias, sua agricultura e sua pecuária. Dependemos, para viver, dos rios voadores que vem da Amazônia.
Diz a ciência que este fenômeno pode se perder com um desmatamento entre 20 a 25% deste grande ecossistema. Se o desmatamento chegar neste nível, os rios voadores perderão sua força e esta água deixará de nos abastecer. E já estamos próximos de 20% de desmatamento. Por isso os apelos do Papa, por isso o Sínodo da Amazônia, por isso a encíclica Laudato Si’, por isso a Exortação Apostólica Querida Amazônia, por isso a Economia de Francisco e Clara e tantas outras iniciativas. Não faltam alertas dos profetas… Seremos como o povo do Velho Testamento, que matava os profetas e ignorava seus apelos? Ou desta vez vamos ouvi-los?
Ouça no Podcast Ignatiana [link]
Encíclicas ecofraternais do Papa Francisco
Laudato si’, sobre o cuidado da casa comum (2015)
Fratelli tutti, sobre a fraternidade e a amizade social (2020)
Luiz Fernando Krieger Merico é graduado em Geologia (UFPR), mestre em Análise Ambiental (UNESP), doutor em Geografia (USP), possui aperfeiçoamento no Schumacher College (Inglaterra) em Economia Ecológica. É autor do livro Mística do século XXI: Guia de Oração com as encíclicas Laudato Si’ e Fratelli Tutti (e-book).
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IGNATIANA é um blog de produção coletiva, iniciado em 2018. Chama-se IGNATIANA (inaciana) porque buscamos na espiritualidade de Inácio de Loyola uma inspiração e um modo cristão de se fazer presente nesse mundo vasto e complicado.