África, minha vozinha
Cléria d’Almeida Córdova
A sabedoria feminina é aquela que apazigua, que organiza e que acolhe. O Planeta sem equilíbrio entre o masculino e o feminino, não terá equilíbrio.
Iyá Adriana de Nanã

Grande e forte África,
Mãe da humanidade,
És generosa, rica e bela.
Tuas Irmãs-Continentes
Procuraram-te,
Não em busca do conhecimento
De tuas ricas civilizações e culturas,
Mas em busca dos teus filhos,
Nos quais viram força,
Sequestraram-lhes,
Escravizaram-lhes,
Negaram-lhes a condição de filhos de Deus,
Nivelaram-lhes à condição de animais,
Maltratando-os por séculos seguidos.
Torturando-os,
Estraçalhando suas famílias,
Destruindo suas origens e histórias.
Demonizando suas crenças.
Mas não conseguiram aniquilar neles, o espírito guerreiro;
É a Capoeira manifestação de resistência
Desta raça desarmada,
Armada de força, coragem e alegria.
Mãe África,
A escravidão é a maior desumanidade da raça humana,
Vergonha da Civilização.
Aqui, neste Brasil mestiço,
Ela se disfarça,
Mas permanece nas mentes desumanas
Que vêem nos irmãos negros
Meio de exploração para enriquecimento,
Meio de obter conforto e acomodação,
Através do trabalho servil,
Mal remunerado e sem direitos.
Brasil mestiço,
Injusta Nação, pretensamente branca
Que tanta riqueza acumulou,
Sugando vidas negras:
Regando suas lavouras com suor negro,
Explorando suas minas e
Lavando o ouro com sangue negro,
Construindo suas grandes cidades
Com a prostração da força da raça negra.
Mentiroso país
Que tenta negar o racismo,
Para não permitir reparação a tanta injustiça.
Este preconceito,
Mancha lodosa,
Está grudado nas almas mesquinhas,
Há de impedir-lhes acesso
Às Divinas Moradas,
Onde almas negras reinam
Na harmonia de seus corações afetuosos,
Na humildade de suas consciências
Plenas de fraternidade.
Sim, é o amor que salvará o nosso Mundo e civilização. Os inimigos racistas que perseguem vocês, são seres humanos danificados, vocês seguindo o caminho do amor, estarão lhes dando a oportunidade, para que se tornem seres humanos completos. Vocês têm o poder de libertá-los de suas almas problemáticas.
Martin Luther King
Salvador, 11 de junho de 2020.
Cléria d’Almeida Córdova, Poetisa, Mulher, Mãe e Vovó de Maria Eduarda, Helder e Inácio. Devota de Santa Dulce dos pobres, que tem o privilégio de apreciar o pôr do Sol na Bahia de todos os Santos.
Imagem: Genaro (1926-1971) — Palmeiral da Ilha da Maré, 1968. Enciclopédia Itaú Cultural.
Poesia Ancestralidade África Consciência Negra Discriminação étno-cultural Negritude Preconceito social racismo
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IGNATIANA é um blog de produção coletiva, iniciado em 2018. Chama-se IGNATIANA (inaciana) porque buscamos na espiritualidade de Inácio de Loyola uma inspiração e um modo cristão de se fazer presente nesse mundo vasto e complicado.