Clotilde Demarchi

Os conceitos recebidos na família e na catequese de iniciação foram importantes, mas em dado momento percebi que eram conceitos que colocavam Deus muito distante, O apresentavam como vingativo, castigador e isso me incutia medo. Com o passar dos anos fui me integrando em um movimento jovem (Treinamento de Liderança Cristã, conhecido como TLC) que, apesar de ser uma proposta impactante em alguns aspectos da religiosidade, fornecia muitos elementos de reflexão baseados na Palavra de Deus, no que senti mais consistência.

No TLC havia, também, uma Escola de Formação com encontros quinzenais onde eram abordados temas de formação humana e espiritual. Assim fui amadurecendo na fé. Me dei conta que Deus não era distante, mas próximo, comigo.

Depois desse tempo, houve uma certa “lacuna”, mas continuei vivendo a fé, participando da pastoral da catequese em minha paróquia.

Porém, a partir de 1983, quando conheci a espiritualidade inaciana através do Gilberto Chimenti, é que mergulhei em “águas mais profundas”. Fiz o EVC (Exercícios na Vida Cotidiana) com mais algumas pessoas e essa experiência durou 5 meses.

Depois que terminamos, nos foi feita a proposta de nos tornarmos CVX (Comunidades de Vida Cristã) e tivemos um tempo de 3 meses pra rezarmos e pensarmos sobre ela. Ao final deste período, voltamos a nos reunir e alguns se identificaram com a Espiritualidade Inaciana, outros não. Os que se identificaram, deram seu “sim” e a partir daí, tivemos vários assessores. Como em toda comunidade, alguns membros se retiraram e outros se integraram a ela.

Em todos esses anos de caminhada, Deus me deu a graça de fazer os Exercícios Espirituais de 8 dias todos os anos, exceto em 2021, por causa da pandemia. Com isso, fui compreendendo melhor a metodologia dos Exercícios, que foi sendo adaptada a uma linguagem mais atual.

Essa experiência é, na vida de todo cristão que a faz, o suporte para viver cada vez melhor o “Em tudo amar e servir”.

É uma espiritualidade encarnada na realidade e a oração diária com a Palavra de Deus, o “fio condutor” que vai nos revelando os apelos de Deus e nos dando a graça de responder a eles.

Esta prática diária é um desafio em nossos dias, frente às demandas da realidade que exigem de cada um, um posicionamento, porém percebo a espiritualidade como uma necessidade que nos abre os olhos para “vermos novas todas as coisas”, para darmos um testemunho coerente com a fé que professamos e isso vai acontecendo de forma natural, em todos os ambientes em que estamos.

A comunidade CVX é um grande apoio nesta caminhada: nela rezamos, partilhamos, estudamos, discernimos e crescemos juntos. Daí também a importância das formações, da convivência fraterna.

A espiritualidade inaciana desperta em nós o “Magis” – ser para o outro no amor e no serviço. É uma “santa aventura” que vale a pena vivenciar.

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Clotilde Demarchi é leiga, pertencente à Comunidade de Vida Cristã (CVX), comunidade Santa Maria, São Bernardo do Campo (SP).

CVX: Uma Vocação

Imagem: Lígia de Medeiros – Gravura brasileira.

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