O País que se abre em esperanças
Guilherme C. Delgado
Como na canção símbolo de Chico Buarque de Holanda – “Apesar de Você”, estamos vivendo o ambiente de desabrochar de esperanças, depois da vitória inconteste de Lula da Silva no 2º turno – dia 30/10/2022.
O clima de medo, ameaças e incertezas que caracteriza a expressão “apesar de você”, não prevalece na canção, nem no ambiente que ora se reinaugura: um novo dia, um novo florescer, mesmo tendo que se haver com os espinhos da caminhada.
Por outro lado, quando nos deparamos com o ambiente político-institucional a que necessariamente o novo governo terá que oferecer respostas imediatas e de longo prazo, percebemos claramente que há muito por fazer para alimentar essas esperanças renascentes. Em especial nas áreas de direitos humanos clássicos, ambientais, agrários e direitos étnicos, erradicação da violência etc., há premente necessidade de providências institucionais, depois de convivência relativamente longa de tolerância com a intolerância dos verdadeiros desmontes de estruturas do Estado de Direito.
Precisamos também ter presente uma realidade que não se pode esconder, mas que se deve interpretá-la adequadamente. O país dividido quase ao meio, que revelou a eleição do segundo turno – o que significa e o que implica para este novo momento político que ora se abre. Este é um tempo necessariamente de desarmamento dos espíritos e das mãos humanas que executam ações de muitas consciências ainda mal informadas, sistematicamente.
Trazer uma grande parte dessas pessoas, que não tendo votado com a maioria, precisam de uma mão estendida, que lhes sirva de referência à convivência democrática e também à partilha do clima de esperança, que se casa com o perdão e nunca com o sentimento de revanche.
Por outro lado, é preciso reconhecer que há também um núcleo duro da chamada extrema direita-raiz, que não cultiva quaisquer valores éticos democráticos e disto faz questão de se autoproclamar. Para com estes grupos, é preciso que conheçam os verdadeiros rigores da lei, que jamais poderá tolerar à intolerância, sob pena de trair por princípio as liberdades democráticas.
A transição de governo que se inicia em 2023, ora em tratativas preliminares, e a transição ético-cultural, já iniciada com os resultados do 2º turno, clamam por esclarecimentos ético-sociais sobre o como agir, no sentido do cultivo à plantinha tenra da esperança, que ora renasce.

Nas próximas semanas, passado o ambiente de Copa do Mundo que absorverá o País até às proximidades do Natal, teremos mais evidências sobre o como evoluirão as transições política e cultural na sociedade. Mas o que se pode antever pela frente são sinais alvissareiros de que “amanhã será um novo dia” de renovadas esperanças.
Guilherme Delgado é doutor em economia pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
Imagem: Rodolfo Athayde — Estrela 3 (1987). Enciclopédia Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira.
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