Brasil: 200 anos de (in)dependência para quem?
Simone Furquim Guimarães
O tema hoje é sobre o 28º Grito dos Excluídos e Excluídas – “Brasil: 200 anos de (In) Dependência para quem?”. Este é um questionamento profético. Os profetas da Bíblia questionavam os reis de Israel por sua postura totalmente contrária a Aliança com Deus Javé e que fazia com que o povo continuasse dependente dos reis de Canaã e do Egito. Eles denunciavam a quebra da Aliança firmada durante a caminhada por libertação, que tinham como projeto construir uma sociedade independente dos governos opressores. O povo de Israel se formou pautado na ideia de viver uma sociedade igualitária, com solidariedade e justiça social.
Porém, com o advento da monarquia em Israel com, Davi, Salomão e demais reis, a Aliança com Deus foi rompida e passaram a viver igual ao modelo de estrutura dos reis de Canaã, que eram subservientes aos impérios de seu tempo, pois, para manter-se no poder, exploravam o povo camponês, o povo pobre com altos tributos e serviços. O profeta Amós, por exemplo, em nome de Deus (oráculos do Senhor), denunciava as injustiças causadas pela elite de Israel, denunciava a situação de desigualdade social que levava o povo a ficar na miséria, devido a exploração da classe dominante.
Hoje, vivemos nesse mesmo sistema. Hoje somos dependentes do império Mercado, da Casa Grande do capitalismo. Para manter-se no poder, os políticos que governam a nação, fazem alianças espúrias com os que controlam a economia de nosso país, os grandes donos do capital (indústria da guerra, multinacionais, indústria farmacêutica, mineradoras, latifundiários, mercado financeiro, grande mídia). Em detrimento, a população sofre cada vez mais a perda de seus direitos civis: são 33 milhões de pessoas passando fome, 10 milhões de pessoas desempregadas, são pessoas que não têm o mínimo de infraestrutura para viver, são os trabalhadores em aplicativo, aqueles que muitas vezes carregam comida nas costas e não têm o que comer.
O grito de todos os excluídos e excluídas dos direitos civis hoje é um questionamento: (In) Dependência para quem? A resposta é: para os bilionários que multiplicaram seu patrimônio durante a pandemia da COVID 19, para o grande mercado econômico que se beneficiam da exploração das riquezas de nossa terra, que produzem a pobreza e a marginalização, sobretudo das comunidades quilombolas e indígenas.
Nossa missão é sermos profetas e visionárias para entender que desde nossa colonização há uma cultura de exploração, de enriquecimento ilícito que só aumenta a desigualdade social. No dia 2 de outubro, é momento oportuno de excluir os políticos que, historicamente, prejudicaram nossa nação, e escolher representantes que apresentam um projeto cidadão que constroem o direito e a justiça.
Os profetas da Bíblia faziam sempre memória do Êxodo, da Aliança com Javé para que os governantes não esquecessem que Deus quer que todos tenham vida em abundância, pois a vida deve vir em primeiro lugar. Os 40 anos que caminharam no deserto representa um tempo de amadurecimento, tempo para entender que não basta sair da casa da escravidão do Egito, é necessário tirar o Egito (esse sistema de poder de exploração e opressão) de nosso modo de ver o mundo. Só assim poderemos viver em um país plenamente independente.
Ouça no Podcast Ignatiana [link]
Simone Furquim Guimarães é mestre em Teologia na linha bíblica. Tem experiência na área de Leitura Popular da Bíblia no Centro de Estudos Bíblicos (CEBI/Planalto Central).
Esta reflexão bíblica foi originalmente apresentada no Programa de Justiça e Paz, produzido pela Comissão de Justiça e Paz da Arquidiocese de Brasília, que vai ao ar todo sábado, às 11:00, na Rádio Nova Aliança.
Desde outubro de 2020, também disponível no podcast Ignatiana.
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IGNATIANA é um blog de produção coletiva, iniciado em 2018. Chama-se IGNATIANA (inaciana) porque buscamos na espiritualidade de Inácio de Loyola uma inspiração e um modo cristão de se fazer presente nesse mundo vasto e complicado.