Uma pessoa sinal
Lylia Diógenes
Eu não conhecia Santo Inácio. O nome, sim. Tinha uma escola com esse nome na cidade onde nasci, Fortaleza. Só.
Católica, apostólica, romana. Mas daquelas que cumprem os preceitos, cumprem os mandamentos e não hesita em se dizer católica ao ser questionada sobre a religião professada.
Vim morar em Brasília. Eu e meu marido. E por esses caminhos estranhos que o Espírito Santo nos conduz, conheci o Centro Cultural de Brasília (CCB). Era um domingo, missa festiva com o Coral do Opa alegrando a todos e com muita participação da comunidade. Fiquei encantada. As missas que costumávamos frequentar não eram assim. Com seus rituais monótonos e sem nenhum calor humano não nos ajudavam a entrar na cena.
Começamos, então, a frequentar as missas de domingo do CCB e logo estávamos entrosados com as pessoas e com os jesuítas. Nos sentíamos em casa. Um ambiente descontraído e inundado pela presença de Deus.
Até que um dia, no final de uma delas, avisaram que no domingo seguinte teria início o Retiro do Advento. Os tradicionais retiros do Advento tão bem preparados pelos jesuítas e coordenados por leigos, que se realizavam nos domingos que antecediam o Natal. Eu e meu marido nem sabíamos como seria, mas estávamos tão encantados com a espiritualidade inaciana que logo quisemos fazer.
Participamos de todas as partilhas e ao final nosso coração estava repleto de gratidão e do desejo de crescer nas coisas de Deus.
Chegou um novo ano e, mais uma vez, fomos surpreendidos no final de uma das celebrações dominicais com o aviso da realização dos Exercícios Espirituais na Vida Cotidiana (EVC), logo mais em março daquele ano de 2011.
Fizemos a semana introdutória e em abril teve início propriamente os EVC. O livro adotado foi “Um Retiro com o Peregrino”, do Pe. Manuel Iglesias. Naquele ano o Pe. Iglesias estava em Itaici. Eu não o conhecia, mas logo me tornei amiga “íntima” dele, pois as mensagens contidas no livro me tocaram tão profundamente que era como se já o conhecesse há algum tempo e estivesse caminhando comigo naquele percurso espiritual tão intenso.

Conhecê-lo, amá-lo e segui-lo se tornou o maior e mais belo desafio da nossa vida.
Foram meses peregrinando com Santo Inácio pelas “mãos” do Pe. Iglesias que foi nos desvelando o Deus verdadeiro, o Deus nosso Senhor Jesus Cristo. Conhecê-lo, amá-lo e segui-lo se tornou o maior e mais belo desafio da nossa vida.
Quanto mais adentrávamos no livro do Pe. Iglesias, mas ansiosa estava por conhecê-lo, por estar perto daquela pessoa que, de uma forma tão simples, direta e envolvente nos mostrava aquele Jesus que há tanto tempo procurávamos.
Até que chegou o dia. Era a festa de Santo Inácio – 31 de julho – e ele seria o celebrante. Vê-lo adentrar na pequena capela do CCB me encheu de emoção e senti como se uma luz envolvesse aquele local. Algo indescritível.
Daí para frente ele se tornou meu guia espiritual, meu amigo, meu conselheiro e se mostrou muito além da pessoa que eu imaginava. Um enviado de Deus.
Com ele eu aprendi que:
Conhecer Jesus é conhecer aquilo que há de melhor em nós mesmos; encontrá-lo é encontrar-se consigo mesmo e com todos os seres humanos; amá-lo é amar a humanidade na mais bela e definitiva de suas concretizações históricas.
Pe. Luís González-Quevedo, SJ (Revista Itaici, 76)
Uma vez eu li que é comum aos místicos, por sua presença e postura, despertar transformações. E é isso o que o Pe. Iglesias realizou em mim e em tantas outras pessoas que foram tocadas por ele. Com seus gestos, palavras e atitudes ele motivou muitos a fazerem a reforma de vida indicada por Santo Inácio.
Conduzidos por ele também nós
Fomos construindo nosso caminho, único, original, sagrado… também fomos deixando transparecer uma vida em conversão.
Pe. Adroaldo Palaoro, SJ (Revista Itaici, 124)
Tudo para maior glória de Deus!
Nessa caminhada percebi o quanto é importante cruzarmos com uma “pessoa sinal” em nosso caminho. Pessoa sinal. Expressão que aprendi com o próprio Pe. Iglesias que pôs no papel o que é uma pessoa assim. E nada o descreve melhor do que ele mesmo escreveu:
Pessoa Sinal
Pe. Iglesias, SJ
São pessoas que se aproximam e deixam que os outros se aproximem delas.
Tocam e se deixam tocar pelos outros.
Acolhem e escutam.
Ajudam, cuidam e servem.
Despertam a fé na vida, e no valor da própria vida: a autoestima.
Propiciam o milagre do encontro interpessoal donde floresce a amizade.
São sinais humildes e gratuitos.
Merecedoras de “credibilidade”.
Suas vidas apontam para a Fonte da Vida, para a Luz que dá sentido.
E para a brisa que faz as águias voarem!
As pessoas sinais são pobres, vazias de si, porém confiantes, cheias do Deus da vida, que transbordam alegria.
São puro DOM!
Animadoras da Esperança.
Elas são um reflexo de Jesus, a Pessoa Sinal do Pai
E Sinal da Humanidade nova.
Nota: Pe. Manuel Eduardo Tomás Iglesias Rivas, SJ (6 de agosto de 1933 — 14 de setembro de 2020)
Lylia Diógenes é leiga, pertencente à Comunidade de Vida Cristã (CVX), comunidade Padre Iglesias, Brasília (DF). É editora do Blog Simples Assim.
Imagem: Ligia de Medeiros — sem nome (gravura)
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IGNATIANA é um blog de produção coletiva, iniciado em 2018. Chama-se IGNATIANA (inaciana) porque buscamos na espiritualidade de Inácio de Loyola uma inspiração e um modo cristão de se fazer presente nesse mundo vasto e complicado.
Saudades de um dos homens mais doces que conheci.
Interceda ao Pai por nós!
O mundo necessita de pessoas sinais…
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Tambémconheci Padre Iglesias e faço minha todas as palavras escritas aqui pela Lilian
Deus nos abençoe a todos e Padre Iglesias interceda por todos nós, lá no Céu,onde ele descansa em Deus.Amem
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