Apóstola dos Apóstolos

Simone Furquim Guimarães

A liturgia da igreja celebra esta semana a oitava da Páscoa, tendo hoje como leitura o Evangelho de Mc 16,9-15.

Inicia dizendo que Maria Madalena foi a primeira a ver o Cristo ressuscitado. E mais no final,  Jesus repreende os onze discípulos por não acreditar no testemunho de Maria Madalena e de outros dois seguidores. A missão dos cristãos é de anunciar, mas como anunciar se não acreditam na ressurreição?

O Evangelho chama a atenção, alertando que a fé na ressurreição é o ponto de partida das comunidades cristãs e é nosso ponto de partida também. Temos, nos quatro Evangelhos Maria Madalena como a primeira a proclamar o principal dogma de nossa fé.

Por este motivo, ela era considerada a Apóstola dos Apóstolos pelas comunidades cristãs. Era venerada e seu ícone representava-a com um manto azul, simbolizando o poder; vestido vermelho, simbolizando a vida; segurando numa mão um ovo, simbolizando a portadora do anúncio da ressurreição e, na outra mão uma luz, que simboliza a vida.

Mas, por outro lado, no final do primeiro século, havia cristãos que não aceitavam a liderança de mulheres nas comunidades. Nas cartas deuteropaulinas, como cartas a Timóteo e Tito, que são escritos desse período, as mulheres são consideradas pecadoras porque alegam que Eva foi quem introduziu o pecado no mundo e por isso, as mulheres devem ser silenciadas, perderam a liderança na comunidade cristã (1Tm 2,12-15).

Mas se queremos ouvir as vozes e visibilizar o protagonismo das mulheres, como foi muitas vezes apresentada nas leituras bíblicas desta semana, onde vimos que elas seguiram (discípulas), serviram (diaconisas) e subiram com Jesus até Jerusalém e ao pé da cruz (Mc 15,40-47), podemos ousar e reconstruir essas histórias, dizendo que nós cristãos/as somos testemunhas desta ressurreição porque carregamos conosco a fé no Cristo libertador! Daquele que ensinou um projeto de inclusão de todos/as na pertença à filiação divina, à salvação, à equidade de gênero e à prática da solidariedade e da justiça social.

Por isso, muitas mulheres e homens, em sua missão, anunciam esse Jesus libertador, mesmo que enfrentando incompreensões e julgamentos sumários de muitas igrejas cristãs que impedem ainda a voz e a vez dessas pessoas. 

Que Santa Maria Madalena seja para nós exemplo de fé e coragem na missão cristã!


Ouça no Podcast Ignatiana


Simone Furquim Guimarães é mestre em Teologia na linha bíblica. Tem experiência na área de Leitura Popular da Bíblia no Centro de Estudos Bíblicos (CEBI/Planalto Central).


Esta reflexão bíblica foi originalmente apresentada no Programa de Justiça e Paz, produzido pela Comissão de Justiça e Paz da Arquidiocese de Brasília, que vai ao ar todo sábado, às 11:00, na Rádio Nova Aliança.

Desde outubro de 2020, também disponível no podcast Ignatiana.

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IGNATIANA é um blog de produção coletiva, iniciado em 2018. Chama-se IGNATIANA (inaciana) porque buscamos na espiritualidade de Inácio de Loyola uma inspiração e um modo cristão de se fazer presente nesse mundo vasto e complicado.

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