Fé na ressurreição
Simone Furquim Guimarães
A leitura do Evangelho hoje é Lc 24,1-12. As discípulas de Jesus: Maria Madalena, Joana e Maria, mãe de Tiago levaram aromas e perfumes para embalsamar o corpo de Jesus no primeiro dia da semana; mas o corpo não estava lá no sepulcro. Elas veem e ouvem dois homens com veste fulgurante e creem em sua mensagem: Jesus ressuscitou! Elas recordam que Jesus já havia anunciado a sua paixão, morte e ressurreição. Então, elas mesmas passam a anunciar este que é o querigma cristão: Jesus Ressuscitou! Elas anunciam aos Onze discípulos, porém eles não creem. Os Onze consideraram aquelas mulheres como loucas. O Apóstolo Paulo já havia advertido: se não crermos na ressurreição, então vã é a nossa fé, pois o verdadeiro cristão é aquele que crê que Jesus Ressuscitou (1Cor 15,14).
Mas por que a fé na ressurreição é tão importante para nós cristãos?
Comecemos, entendendo a origem desta fé. A fé na ressurreição não pode ser confundida com a crença na imortalidade de uma alma que os filósofos gregos consideravam no campo espiritual. Esta crença é uma manipulação para adormecer as consciências, conformando-nos com as injustiças e as opressões: você pode sofrer na vida, que sua alma vai se eternizar no paraíso.
A fé na ressurreição, longe de ser fonte de uma espera alienante a ser alcançada só no fim dos tempos ou por intervenção mágica de Deus, é a verdadeira mola que impulsiona para a luta.
A fé na ressurreição se origina no tempo da opressão do império grego, sobretudo pelo imperador Antíoco IV Epífanes, em torno do ano 175 a.C. Temos os relatos, sobretudo no livro dos Macabeus. Inúmeros judeus foram assassinados cruelmente. Em 2 Mac 7,1-40, uma mulher, uma mãe proclama então o que vem a ser a fé inabalável na vida eterna.
Eram as mães que ensinavam aos filhos, até seus 12 anos de idade, a fé no Deus libertador. Como geradora da vida, a mãe também tem o cuidado com a vida, então, por trás dessa mãe, que vê seus 7 filhos sendo cruelmente assassinados, inúmeras mulheres perceberam que a morte não é o fim último e que Deus está do lado da vida; do lado dos que lutam por vida justa para todos e todas.
Vemos nos Evangelhos que Jesus confirmou e assumiu a certeza desta proclamação de fé, estando do lado dos mais empobrecidos. E assim, os primeiros cristãos e cristãs passam a seguir essa fé de Jesus, como nos relata o Evangelho de Lucas, na figura das discípulas Maria Madalena, Joana e Maria, mãe de Tiago. Estas mulheres não temem os opressores, vão atrás do corpo, creem e anunciam: Jesus Ressuscitou!
Esta é a grande novidade da fé na ressurreição: Deus está do lado dos empobrecidos. Hoje, Deus está do lado dos indígenas que estão acampados aqui em Brasília, na luta e resistência por terra livre, por direitos e justiça, pois Deus quer vida plena para todos nós.
Que renovemos a nossa fé na ressurreição. Feliz Páscoa!
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Simone Furquim Guimarães é mestre em Teologia na linha bíblica. Tem experiência na área de Leitura Popular da Bíblia no Centro de Estudos Bíblicos (CEBI/Planalto Central).
Esta reflexão bíblica foi originalmente apresentada no Programa de Justiça e Paz, produzido pela Comissão de Justiça e Paz da Arquidiocese de Brasília, que vai ao ar todo sábado, às 11:00, na Rádio Nova Aliança.
Desde outubro de 2020, também disponível no podcast Ignatiana.
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IGNATIANA é um blog de produção coletiva, iniciado em 2018. Chama-se IGNATIANA (inaciana) porque buscamos na espiritualidade de Inácio de Loyola uma inspiração e um modo cristão de se fazer presente nesse mundo vasto e complicado.