Au revoir, caro Thierry

Pe. Alfredo J. Gonçalves

Obrigado, amigo Thierry, por esse legado imaterial, e por isso mesmo imperecível.

Há tempo nutria a vontade de uma conversa olho no olho, mas você estava ocupado com a última travessia. Eu tinha de reverenciar em silêncio essa tarefa única e irrepetível.

Agora sei que, do lado de lá, você pode me ouvir, me sinto mais livre para este bate-papo, um tanto quanto estranho, reconheço. Mas não posso deixar de registrar o legado que você deixa para todos nós.

Sempre admirei sua postura de estudioso sério e comprometido. E ao dizer isso, refiro-me sobretudo à sua dúvida sadia diante de tanta verborragia. Quase diria um “sábio cinismo” frente aos ruídos de uma sociedade que parecia ter muito a dizer, embora não dispusesse de ouvidos. Nesse sentido, você foi um combatente desse diálogo de surdos que se instalou em nosso país.

Em meio ao negacionismo e em tempos de uma grande avalanche de “fake news”, a sua dúvida científica era e continua sendo um remédio para filtrar o joio do trigo. E para construir pontes de diálogo e entedimento entre essa noção equivocada que tenta dividir os “bons” dos “maus”, os “certos” dos “errados”.

É essa herança que eu gostaria de sublinhar. Mais que o ouro, mais que as contas bancárias, mais que os títulos, poderes e honrarias – é ela que nos pode ajudar a recosturar nossa sociedade fraturada, fragmentada, onde parecem ter sobrado apenas escombros, ruínas e cinzas.

Você, como pesquisador íntegro nos deixa essa chave, esse instrumento, essa ponte, esse fio para tecer relações novas de busca e compreensão. Sim, necessitamos recomeçar. O tecido se esgarçou, o contrato social se rompeu. A sua visão lúcida e tenaz nos ajuda a compreender que a verdade não está comigo nem com o outro, ela está no diálogo aberto e transparente; a verdade não está na partida ou na chegada, e sim no meio da travessia; a verdade não está com esta ou aquela cultura, mas no confronto sadio e respeitoso entre todos os povos, nações e valores.

Obrigado, amigo Thierry, por esse legado imaterial, e por isso mesmo imperecível. Você nos ensinou a usar a razão em favor do bem-estar comum. Razão sempre revestida de carinho, de ternura e do cuidado para com o interlocutor, fosse elevquem fosse. Razão de braços dados com os mais profundos sentimentos humanos e temperada com a Boa Nova do Evangelho.

Por tamanha e tão rica herança, obrigado caro Thierry. Descanse na luz e na paz do Senhor, e continue nos iluminando com a lembrança de um serviço que imprimiu marcas indeléveis por onde passou. Voçê segue vivo em nossa memória e na Casa do Pai!


Padre Alfredinho é religioso scalabriniano, foi assessor do Setor Pastoral Social da CNBB (1998-2003).

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