Rezando a Ressurreição (nossa de cada dia)
Joana Eleuthério
A Ressurreição é uma maravilhosa canção de esperança. … nós devemos viver já em ressurreição. Nietzsche dizia: “Eu acreditarei nos cristãos no dia em que eles tiverem semblantes de ressuscitados”.
Raymond Gravel
[Como um grande dom] “o corpo humano, de alguma forma misteriosa, inexplicável, será parte do que é ressuscitado, redimido, homenageado com a vida eterna. Assim, estes corpos são sagrados já agora. […] Queremos dizer, de alguma forma, nosso ser inteiro, não apenas nossa carne ou nosso espírito desencarnado. É assim como Deus pretende resgatar toda a criação, Deus também pretende resgatar a essência em nós. ” Bill Tammeus
Da experiência de nossa fragilidade humana, foi que Jesus viveu sua Ressurreição.
Foi da enorme vulnerabilidade em que me vi, depois de imensas dores durante um semestre, uma cirurgia ortopédica, que desencadeou problemas gastrointestinais por longos dias, quando eu experimentei a sensação de morrer. — Enorme fraqueza gerando sensação de invalidez e de total dependência de meus filhos para fazer tudo (ou nada), se eu precisasse sair da cama.
As drogas me entorpeciam e eu dormia sem nenhuma noção do tempo – uma anedonia de origem muito mais física do que espiritual ou psicológica: falta de apetite, nenhuma vontade de ler, ver os bons filmes disponíveis em streaming, conversar ou mesmo rezar. Sem desejos e nenhuma capacidade para sonhar o futuro ou uma viagem, o que eu adoro.
Retornar à vida após a morte é uma dimensão da fé pessoal, que é misteriosa demais para se falar. […] começar de novo, levantar-se, e essa vontade se chama justamente assim, vontade de ressurgir.
Da entrevista com Roberta De Monticelli, 68 anos, filósofa, e Enzo Pace, 76 anos, sociólogo.
Era manhã, com meu filho me ajudando a me levantar, percebo que consigo ficar de pé sem ajuda, consigo me assentar e levantar da cadeira de rodas, sinto vontade de tomar o café da manhã. Uma leve brisa entrando pela janela do meu quarto toca meu rosto. Sinto a energia vital retornando para minhas células e meu sangue. – Vida que pulsa em mim — Gratidão.
No dia seguinte ensaio alguns passos no andador e já fico sozinha durante o banho, sem medo de cair. Já não me sinto enjoada com o cheiro do almoço, saboreio alguns alimentos e nem volto rápido para a cama, ficando meia hora de papo com minha filha, que cuidava de mim neste dia, e a deliciosa presença de meu netinho junto de nós.
Quando digo, seguindo Jürgen Moltmann, que Ressurreição é uma revolução na evolução, quero dizer que Ressurreição é uma pequena antecipação do fim bom da criação, como se o termo da evolução se antecipasse e nos mostrasse em pequeno o que nos está preparado.
Leonardo Boff
Assim, fui abrindo espaço no meu coração, ‘morada Daquele que não nos visita, mas faz morada em nós ‘. O tônus vital não volta sozinho sem a ação do Espírito Santo e o toque de Jesus misericordioso e cheio de compaixão e que sempre espera por nós.
Os desejos de vida e o apetite foram voltando e trazendo vigor e serenidade.
as pernas vão se fortalecendo e já ensaio pequenos passos só com a bengala.
Comecei a ter vontade de sair de carro com minha filha só para observar as ruas, Já fomos a uma missa presencial na Igrejinha, mas deve ficar por aí, porque o vírus e suas variantes estão nos ameaçando com a terceira onda.
Cristo queria que víssemos nossa divindade no meio de nossa frágil e bela humanidade. […] A ressurreição de Cristo é mais do que um símbolo de fé; é um modelo de renascimento para todos nós. Mostra a resiliência de Deus – e de Deus na humanidade – durante um tempo de violência e turbulência. O Jesus que os discípulos encontram no Evangelho de João é um ferido, um homem que carrega suas cicatrizes não para cuidar delas, mas para viver além delas. […] Não é tanto a visão das mãos de Jesus como Tomé as viu, mas o conhecimento de que mãos feridas podem curar, e que o que estava morto em nós pode voltar vivo.
Rebecca Collins Jordan

Brasília, 20 de janeiro de 2022.
Dia de São Sebastião
Joana Eleuthério é graduada em Letras. Servidora pública aposentada da Secretaria de Estado de Economia do Distrito Federal – Escola de Governo do Distrito Federal (EGOV).
Inaciana, avó e mãe, caminha pelas estradas de Jesus, de Santo Inácio e de Santa Teresa de Ávila, por onde tem se inserido na Comunidade do Centro Cultural Brasília (CCB/Jesuítas). Muito grata pela caminhada realizada até aqui.
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Caminhante sem nenhuma linearidade e com variados interesses – uma buscadora incansável.