Terra boa

Simone Furquim Guimarães

Lucas 8,4-15

A leitura do Evangelho hoje é Lc 8,4-15. Jesus está a “caminho”. E nesse caminho, ensina a multidão e seus discípulos os mistérios do Reino de Deus por meio da “parábola do semeador”. Esta parábola aponta para as pessoas que acolhem ou não o Evangelho e também para as que semeiam o Evangelho, pois, a parábola do semeador está no contexto em que Jesus sai em missão, peregrinação por vários “caminhos” (cap. 4-9).

O evangelista mostra à comunidade cristã que ser cristão é estar disposto a sair de seu comodismo e ir em busca do outro: “O semeador saiu” (v.5). E o fez em vários caminhos, vários contextos de vida. Padre Antônio Vieira, jesuíta do século XVII, no livro “Sermões”, no capítulo que trata do Sermão da Sexagésima, vai dizer que: “O pregador evangélico será pago não só pelo que semeia como pelas distâncias que percorre, e não volta nem mesmo diante das dificuldades que a natureza lhe apresenta: as pedras, os espinhos, as aves, o homem”. Para quem lavra com Deus, até o sair é semear, porque também das passadas colhe fruto. A parábola provoca todos nós, enquanto igreja, a não ficarmos acomodados e circunscritos nas sacristias, mas que sejamos “igrejas em saída”, em busca das “periferias existenciais”, como diz o Papa Francisco; estar disposta a enfrentar as intempéries da vida, bem como aprender com o outro os mistérios do Reino.

Importante lembrar que no contexto literário de Lucas, muitos e muitas aderiram e seguiram Jesus (cf.vv.1-2.3). Nos quatro Evangelhos, as mulheres seguiram, serviram e subiram com Jesus até Jerusalém e estavam com Ele quando crucificado. Muitos e muitas acolheram a “semente” e perseveraram, produzindo frutos que até hoje estamos colhendo… O Evangelho nos interpela a sermos a terra boa. A terra boa tem acolhida e a perseverança. Perseverar, continuando a ser discípulos/as de Jesus, semeadores da Boa Notícia, mesmo diante das “pedras”, dos “espinhos”, “aves de rapinas” e “(des)humanos” que pregam discursos de ódio e disseminam a violência.

Neste contexto de luta e resistência contra a lei do marco temporal, que pretende usurpar as terras indígenas, a parábola do semeador, ensinada por Jesus, está a nos provocar a sermos terra boa, acolher a semente do Evangelho e frutificar. Ou seja, assim como Jesus esteve junto às pessoas mais vulneráveis da sociedade de seu tempo, devemos também nós imitá-lo. A terra boa produz frutos. Frutos de justiça e paz. Portanto, estamos aqui para dar voz e visibilidade aos irmãos e irmãs indígenas que estão perdendo seus direitos.


Ouça no Podcast Ignatiana


Simone Furquim Guimarães é mestre em Teologia na linha bíblica. Tem experiência na área de Leitura Popular da Bíblia no Centro de Estudos Bíblicos (CEBI/Planalto Central).


Esta reflexão bíblica foi originalmente apresentada no Programa de Justiça e Paz, produzido pela Comissão de Justiça e Paz da Arquidiocese de Brasília, que vai ao ar todo sábado, às 11:00, na Rádio Nova Aliança.

Desde outubro de 2020, também disponível no podcast Ignatiana.

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IGNATIANA é um blog de produção coletiva, iniciado em 2018. Chama-se IGNATIANA (inaciana) porque buscamos na espiritualidade de Inácio de Loyola uma inspiração e um modo cristão de se fazer presente nesse mundo vasto e complicado.

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