Autoridade e sabedoria
Simone Furquim Guimarães
Marcos 11,27-33
O Evangelho de hoje (Mc 11,27-33) mostra a arrogância e a artimanha dos que detêm o poder religioso. Os chefes dos sacerdotes, os escribas e os anciãos procuraram Jesus para interrogá-lo, pois estavam incomodados com as desconstruções que Jesus estava promovendo sobre a Lei de Deus, sobre a função do Templo e da religião. Isto porque pouco antes Jesus entrou no Templo e derrubou as mesas dos cambistas, mostrando-se indignado com as práticas e ensinamentos proferidos pelas lideranças religiosas ali no Templo (Mc 11,15-19). Estas lideranças o procuraram e perguntaram: “Com que autoridade fazes essas coisas?”.
Os chefes dos sacerdotes eram encarregados do culto do templo e recebiam o dízimo, taxas e ofertas; os escribas eram encarregados do ensino da observância da Lei de Deus; os anciãos eram líderes locais nas várias aldeias. Eles se consideravam os donos de tudo e achavam que ninguém podia fazer nada sem a autorização deles. Por isso também questionaram a autoridade de Jesus. Mas Jesus, sabendo da má intenção e artimanha para entregá-lo à julgamento e condenação, usou da liberdade de não dar resposta direta e devolver-lhes com outra pergunta, pois sabia que foram eles que entregaram João Batista. Eles preferiram não responder para não se expor, pois temiam perder o poder que tinham diante do povo, pois o povo acreditava no profetismo de João Batista.
Mas, em seguida, Jesus conta uma parábola. É na parábola da vinha (Mc 12,1-9) que Jesus dá a sua resposta indireta aos homens do poder sobre sua autoridade: ele é o filho, o herdeiro. E desmascara as autoridades que manipulam a religião e matam o filho.
Jesus era reconhecido porque exercia autoridade em seus ensinamentos e práticas. O termo “autoridade” significa ter conhecimento verdadeiro da Lei de Deus.
Hoje, muitas vezes somos desafiados/as em não cair na tentação de confundir, nos espaços de poder (religiosos, político, social, do trabalho e familiar), que tipo de autoridade estamos reconhecendo ou exercendo. Assim como no tempo de Jesus, muitas autoridades de hoje manipulam Deus e o seu projeto para legitimar seus privilégios.
Somos cientes de que a relação de poder e de liderança são necessários; mas, como Jesus ensina, essa relação deve existir com sabedoria, deve existir para servir, para construir espaços de liberdade, de relações saudáveis e de acolhimento.
Que o sopro do Espírito Santo, em Pentecostes, ressoe em nossas vidas, inspirando lideranças com autoridade e sabedoria para colocar em prática os ensinamentos de Jesus Cristo. Amém!
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Simone Furquim Guimarães é mestre em Teologia na linha bíblica. Tem experiência na área de Leitura Popular da Bíblia no Centro de Estudos Bíblicos (CEBI/Planalto Central).
Esta reflexão bíblica foi originalmente apresentada no Programa de Justiça e Paz, produzido pela Comissão de Justiça e Paz da Arquidiocese de Brasília, que vai ao ar todo sábado, às 11:00, na Rádio Nova Aliança.
Desde outubro de 2020, também disponível no podcast Ignatiana.
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IGNATIANA é um blog de produção coletiva, iniciado em 2018. Chama-se IGNATIANA (inaciana) porque buscamos na espiritualidade de Inácio de Loyola uma inspiração e um modo cristão de se fazer presente nesse mundo vasto e complicado.