Cartinha do hospital
João Carlos Pereira
Meus amigos e minhas amigas
Não vou começar outra série de crônicas. Não tenho ânimo para tanto.
São 11h42 do domingo, 25 de outubro.
Devido a não poder atender tantas ligações e a não ter condições de estar no zap, me inspiro em São Paulo e em São Pedro e preparo esta cartinha.
Estive assimtomático por vários dias e por isso peço imensas desculpas, caso tenha causado, involuntariamente, a transmissão do Coronavírus.
Por causa de uma febre de 38,5ºC fui internado na emergência do Hospital Amazônia, onde passei horas terríveis, a espera do leito que não havia.
De repente, na hora da maior necessidade, como se fosse uma tarefa coordenada de informação instantânea, entraram no circuito ao mesmo tempo, o Hélder, o Zenaldo, o Leonam Cruz, a Clara Nery, o Antônio (e a Iracema) Lourenço, Jamilly e o Alírio Gonçalves. Todos me acolheram sob suas asas e fui recebido na ala Camões, da Beneficente, onde estou sendo tratado principescamente. Num piscar de olhos, nosso Senhor transforma amigos em anjos da guarda.
Hoje tive febre de 37,0 e não há sinais de infecção secundária, graças a Deus. Apenas me sinto muito fraco.

Estar na ala Camões é uma espécie de bom presságio, para mim que acredito na poesia e na ajuda das ninfas do Tejo. Ora, se elas deram ao poeta empenho para que ele compusesse os 8816 versos de Os Lusíadas, por que me deixariam na mão?
Sinto a doce presença de Nossa Senhora de Nazaré neste ambiente e nela confio.
Assim que puder mandarei mais notícias.
Estou acompanhado de ótimos médicos, atenciosos e cuidadosos. Muitos me conhecem e me acariciam.
As instalações são maravilhosas e a comida é boa, muito boa.
Deus os guarde e Nossa Senhora os proteja.
Como disse o nosso santo padre Francisco, rezem por mim.
Carinhosamente,
João
João Carlos Pereira (Belém do Pará, 1959-2020) jornalista, escritor, professor, membro da Academia Paraense de Letras.
Série Diário de um desespero – ou quase
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Imagem: Columbano Bordalo Pinheiro — Camões e as Tágides, 1894.
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IGNATIANA é um blog de produção coletiva, iniciado em 2018. Chama-se IGNATIANA (inaciana) porque buscamos na espiritualidade de Inácio de Loyola uma inspiração e um modo cristão de se fazer presente nesse mundo vasto e complicado.