Tempo de Precariedade e Tempo de Esvaziamento
Caminhada Inaciana 2020 – Primeiro Pouso

…o futuro chegou de supetão, achando-nos impreparados. Nenhum de nós sabe como lidar com esta situação. Sentimo-nos, todos, mais vulneráveis, mais precários.
Cardeal Tolentino
Precariedade é a qualidade daquilo que é frágil, sinônimo de vulnerabilidade.
Nossos sentimentos e crises destes tempos estão diretamente relacionados ao fato de que, de uma só vez, várias frentes de nossa vida, sobre as quais acreditávamos ter controle, tornaram-se vulneráveis. Nossa saúde se tornou vulnerável. Assim também nossa capacidade de controlar o sofrimento a que seremos expostos. O acesso à saúde se tornou incerto. Nossa solidão se abriu como uma ferida. Não podemos estar com os que amamos. Sequer temos a certeza de que vamos revê-los um dia… Não podemos mais ir e vir, atender aos mais básicos desejos que nos ocorriam com naturalidade antes. Alguns mantiveram suas fontes de renda, mas muitos se viram vulneráveis na própria sobrevivência material. Em resumo, a palavra que representa a chave da fechadura da pandemia é VULNERABILIDADE!!
O tempo da pandemia é “…um tempo de kénosis, de esvaziamento, um tempo de silêncio, um tempo em que, talvez, sintamos uma incerteza muito grande, um tempo de crise, um tempo em que parece que a vida vem menos.”
Neste cenário porque não, uma vez na vida, talvez pela primeira vez na vida, nos ABRIRMOS à vulnerabilidade? Porque não acolher o ESVAZIAMENTO? Esvaziar-se não é acolher a VULNERABILIDADE?
Jesus nos mostra ao longo de sua vida como é possível acolher o esvaziamento com múltiplos exemplos. Se encarna numa pobre e simples jovem, entrega-se ao batismo de São João Batista, passa 40 dias solitário no deserto, vive sua vida pública sem deter o mais mínimo poder, em sua agonia no horto, em sua Paixão, em sua morte aviltante e humilhante.
Esse esvaziamento também ressoa na primeira bem-aventurança: “Felizes os pobres de espírito, porque deles é o Reino do Céu! Sabemos que, ao se referir aos pobres de espírito, Jesus usou a palavra ANAVIM. Anavim são aqueles que não têm mais nada na vida senão a misericórdia de Deus. São aqueles que vivem de Deus, e de Deus SÓ.
Não seria este esvaziamento a perfeita imitação de Cristo, a porta para vivermos este tempo como uma bem-aventurança?
O próprio Cardeal Tolentino, em sua obra Elogio da Sede, aborda o tema da força que se manifesta na fraqueza e nos lembrar que – “…O caminho espiritual não nos impermeabiliza em nenhuma etapa em relação a vulnerabilidade, da qual temos que estar conscientes. Transportamos o nosso tesouro em vasos de barro – como nos recorda São Paulo – para demonstrar que “este poder que a tudo excede provém de Deus e não de nós mesmos” (2Coríntios 4,7).
Caminhada Inaciana 2020
Introdução
1º Pouso | 2º Pouso | 3º Pouso | 4º Pouso | 5º Pouso
Imagem: Tikashi Fukushima — Composição Vermelha,1964. Enciclopédia Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileiras.
Espiritualidade cristã Caminhada inaciana Peregrinação Santo Inácio de Loyola (1491-1556)
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IGNATIANA é um blog de produção coletiva, iniciado em 2018. Chama-se IGNATIANA (inaciana) porque buscamos na espiritualidade de Inácio de Loyola uma inspiração e um modo cristão de se fazer presente nesse mundo vasto e complicado.