Formar redes
Simone Furquim Guimarães
A leitura do Evangelho proposta pela igreja hoje é Mateus 4,18-22. Relata que Jesus caminhava pelo mar da Galileia, aproximou-se dos pescadores, viu seus afazeres lançando e consertando redes e chamou-os para fazer parte de seu Seguimento. Simão Pedro, André, Tiago e João foram os primeiros discípulos de Jesus. O Evangelho diz que quando Jesus caminhava pelo mar “viu” a situação de vida daquelas pessoas. Presenciou o contexto de vida daquelas pessoas.
Naquele tempo, os pescadores estavam à margem da sociedade e da religião. Eram explorados por pesados tributos para sustentar o império: o governo local, o exército, a corte, além do Templo. Os pescadores eram considerados impuros por não conseguir cumprir com todas as obrigações doutrinais exigidas pela religião judaica.
Importante observar que o texto repete a palavra “rede” por três vezes. Este é um recurso literário do judaísmo daquele tempo. É uma chave de leitura que abre para uma compreensão. Jesus viu que aqueles pescadores estavam envolvidos no emaranhado das redes: uns “lançavam suas redes ao mar” e outros “consertavam suas redes”.
Lançar a rede ao mar, No imaginário judaico, o mar é símbolo do medo e do perigo, pois pelo mar chegava a legião de soldados do exército Romano.
Outros consertavam suas redes: Jesus viu que aquelas pessoas estavam presas em suas “redes” de problemas.
No Evangelho de Lucas há um detalhe desse acontecimento, dizendo que Jesus os acalmou: “Não tenhas medo, doravante serás pescador de homens” (Lc 5,10).
Os primeiros discípulos se libertaram imediatamente de suas “redes” e seguiram Jesus.
O texto nos provoca a refletir sobre em quais “redes” estamos presos e que nos impedem de seguir Jesus nos dias de hoje. Os problemas pessoais; o comodismo; o emaranhado sistema de exploração trabalhista, econômica, aliado ao pensamento que visa aos bens em detrimento das pessoas, e nos prendem no consumismo e, por sua vez, no individualismo; Muitas pessoas estão presas, fechadas em suas verdades absolutas; são inflexíveis sobre a vida, sobre Deus, sobre as doutrinas.
Jesus convida esses pescadores e a nós também a formar outras redes. Redes de comunidades de iguais, de solidariedade, que em comum união trabalha nos vários tipos de evangelização para construir um mundo melhor. Jesus convida a sermos pescadores de homens e mulheres.
Simone Furquim Guimarães é mestre em Teologia na linha bíblica. Tem experiência na área de Leitura Popular da Bíblia no Centro de Estudos Bíblicos (CEBI/Planalto Central).
Esta reflexão bíblica foi originalmente apresentada no Programa de Justiça e Paz, produzido pela Comissão de Justiça e Paz da Arquidiocese de Brasília, que vai ao ar todo sábado, às 11:00, na Rádio Nova Aliança.
Desde outubro de 2020, também disponível no podcast Ignatiana.
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IGNATIANA é um blog de produção coletiva, iniciado em 2018. Chama-se IGNATIANA (inaciana) porque buscamos na espiritualidade de Inácio de Loyola uma inspiração e um modo cristão de se fazer presente nesse mundo vasto e complicado.