Oração e vigilância — Lc 21,34-36

Simone Furquim Guimarães

A leitura do Evangelho hoje (cf. Lc 21,34-36) nos convida a refletir sobre a vigilância e a preparação para a vinda do Filho do Homem. Estamos na véspera do tempo litúrgico do Advento, e a liturgia deste período nos chama a uma atitude de espera ativa. No próximo domingo, a leitura (cf. Mt 24,37-44) trará uma mensagem semelhante, reforçando a importância da vigilância para nos prepararmos para a vinda do Senhor.

O Advento é, por excelência, um tempo de preparação. O Evangelho de hoje já nos lembra dessa preparação, desafiando-nos a estar prontos para o momento especial da vinda de Jesus. Mas como, de fato, podemos nos preparar para receber o menino Jesus em nossos corações?

Lucas nos aponta para a oração como chave dessa preparação. Porém, sabemos que oração não é apenas um estado passivo de espera; ela é uma ação. Jesus nos alerta que a oração e a vigilância são necessárias para que não sejamos dominados pelas distrações deste mundo – como a devassidão e a embriaguez – que tornam nosso “coração pesado”. Na Bíblia, o “coração” simboliza nossa mente, a fonte de nossos pensamentos e decisões. Quando nosso coração está pesado, estamos nos deixando levar pelas influências e valores mundanos, em vez de seguir o projeto divino para a humanidade.

No contexto histórico de Jesus, o “mundo” que Ele mencionava estava dominado pelo Império Romano, uma cultura que, de acordo com Jesus, teria fim. O Reino de Deus, representado pelo Filho do Homem, é um reino que transcende essas realidades temporais, pois é um reino de humanização e transformação.

Hoje, em nosso tempo, essa mensagem também se aplica. Precisamos estar atentos às tentações do mundo moderno: o consumismo, a busca incessante por poder e riqueza, a cultura do descartável e do individualismo. Esses valores contribuem para a intolerância e insensibilidade nas relações sociais, tornando-nos cada vez mais desumanos diante do sofrimento alheio.

Por isso, nossa oração deve ser mais do que palavras: ela deve ser um impulso para a ação. Devemos lutar pela construção do Reino de Deus. A Marcha das Mulheres Negras que aconteceu nesta semana (25/11), na Esplanada dos ministérios é um exemplo de ação para a construção do Bem Viver. Marcharam mulheres de todo Brasil, gritando por Reparação, combate à violência, a escravidão que ainda acontece em nosso país; foi um grito contra a injustiça, a fome, a miséria, e todas as formas de opressão.

O grito na Marcha é um chamado a estarmos mais preparados para acolher o Filho do Homem, que se manifesta nas boas obras dos cristãos e cristãs comprometidos com a dignidade humana.

Que nossa preparação para o Advento seja, portanto, uma renovação do compromisso com a construção de um mundo mais justo, fraterno e solidário. Amém!


Ouça no Podcast Ignatiana [link]

Simone Furquim Guimarães é mestre em Teologia na linha bíblica. Tem experiência na área de Leitura Popular da Bíblia no Centro de Estudos Bíblicos (CEBI/Planalto Central).


Esta reflexão bíblica foi originalmente apresentada no Programa de Justiça e Paz, produzido pela Comissão de Justiça e Paz da Arquidiocese de Brasília, que vai ao ar todo sábado, às 11:00, na Rádio Nova Aliança.

Desde outubro de 2020, também disponível no podcast Ignatiana.

Ano C — Sábado. 34ª Semana do Tempo Comum

Palavra de Deus Simone Furquim Guimarães

Ignatiana Visualizar tudo →

IGNATIANA é um blog de produção coletiva, iniciado em 2018. Chama-se IGNATIANA (inaciana) porque buscamos na espiritualidade de Inácio de Loyola uma inspiração e um modo cristão de se fazer presente nesse mundo vasto e complicado.

Deixe um comentário