A ótica do amor

Simone Furquim Guimarães

A leitura de hoje é Mc 16, 15-18. Este pequeno trecho faz parte da narrativa maior que se inicia no versículo 9, que narr,a pela segunda vez, sobre Jesus ressuscitado ter aparecido às mulheres e às outras pessoas; elas anunciaram aos onze discípulos, porém eles não acreditaram; Jesus então chama atenção deles pela falta de fé.

A pesquisa bíblica nos informa que neste capítulo 16 do Evangelho de Marcos, os versículos 9 a 19 não pertencem ao texto original do Evangelho; é um acréscimo posterior porque esses versículos não estão nos manuscritos mais antigos. É importante que consideremos essa possibilidade por dois motivos que devemos perceber em todo o capítulo 16:

Primeiro, porque os versículos de 9 a 14 repetem pela segunda vez a narrativa da ressurreição, como que fazendo uma síntese da narrativa anterior, porém modificando-a.

O segundo motivo do texto de hoje não pertencer ao Evangelho de Marcos, diz respeito às palavras de exclusão proferidas aqui por Jesus: “Quem crer e for batizado será salvo. Quem não crer será condenado” (cf. v.16). É importante nos ater que isto é contraditório em tudo que Jesus fez e ensinou durante sua vida pública, narrada nos quatro Evangelhos.

Nos quatro Evangelhos, Jesus ensinou sobre a inclusão de todas as pessoas no plano de salvação do Pai, independente dela ser da religião judaica. Jesus dialogou e respeitou com os Samaritanos, com os Siro-Fenícios, com diversas pessoas consideradas “pagãs”. Em nenhum momento, Jesus descriminou ou excluiu alguém por “não crer e não ser batizado”.

É importante que olhemos para a leitura bíblica e interpretamos os textos sempre na ótica do amor misericordioso do Pai, senão iremos legitimar as exclusões e as violências em nome de Deus.

Sabemos que a Bíblia é Palavra de Deus enraizada na história humana; portanto, escrita por mãos humanas e inserida no tempo e cultura de cada geração. Por isso, não pode ser lida ao pé da letra.

Se queremos ser fiéis ao Jesus Cristo, devemos ler a Sagrada Escritura, a partir do que ele nos ensinou a todo momento: mostrando o amor misericordioso do Pai e o amor às pessoas, sobretudo às mais sofridas.

Que o mesmo Jesus que viveu na Palestina e lá acolhia a todos do seu tempo, continue vivo no meio de nós, através de nós! Amém!


Ouça no Podcast Ignatiana [link]

Simone Furquim Guimarães é mestre em Teologia na linha bíblica. Tem experiência na área de Leitura Popular da Bíblia no Centro de Estudos Bíblicos (CEBI/Planalto Central).


Esta reflexão bíblica foi originalmente apresentada no Programa de Justiça e Paz, produzido pela Comissão de Justiça e Paz da Arquidiocese de Brasília, que vai ao ar todo sábado, às 11:00, na Rádio Nova Aliança.

Desde outubro de 2020, também disponível no podcast Ignatiana.

Ano C — Sábado. 2ª Semana do Tempo Comum

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IGNATIANA é um blog de produção coletiva, iniciado em 2018. Chama-se IGNATIANA (inaciana) porque buscamos na espiritualidade de Inácio de Loyola uma inspiração e um modo cristão de se fazer presente nesse mundo vasto e complicado.

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