Vinho novo
Simone Furquim Guimarães
A leitura de hoje (Jo 2,1-11) inicia narrando que é no terceiro dia de vida pública que Jesus realiza seu primeiro sinal ou milagre. Este sinal indica a manifestação de sua glória. Sabemos que o último sinal será a ressurreição de Lázaro, que prefigura a ressurreição de Jesus.
O Evangelho de João é conhecido por ser mais reflexivo, profundo, por ser rico em simbolismos nas suas narrativas. A palavra símbolo significa aquilo que une. Nesta narrativa sobre o casamento em Caná da Galiléia, que é um acontecimento do cotidiano da vida das pessoas, o evangelista utiliza de várias simbologias para aprofundar o conhecimento e a compreensão sobre Jesus Cristo unindo este conhecimento na vida das comunidades cristãs, bem como na nossa realidade
O texto diz que na festa do casamento, o vinho oferecido pelo dono da casa havia acabado. Para os judeus, vinho simboliza vida. O evangelista quer nos ensinar que o vinho antigo, oferecido pela tradição da religião judaica, acabou. Agora virá um vinho novo. Quem representará este vinho novo?
Maria é que intervém neste advento. É ela que está junto de Jesus no início e no fim dos acontecimentos de Jesus (aos pés da cruz, cf. 19,25-27). É ela, que coloca sua vida a serviço desde o início e por isso pede para os serventes da festa para “fazer tudo que Jesus disser”. Os serventes simbolizam a comunidade cristã.
Maria foi a protagonista dessa motivação de mudança feita por Jesus. É Maria que antecipa o tempo de Deus; por isso, pede Jesus um sinal. Jesus responde “a minha hora ainda não chegou” (v.4). Esta é a chave de leitura do texto, pois cada sinal (obra) realizado por Jesus é caminho para sua glória e enaltecimento junto ao Pai. Maria sabia que Jesus deveria inaugurar um novo olhar sobre Deus, um novo entendimento sobre o projeto de Deus. Por isso, pediu para que os servidores seguissem tudo que Jesus dissesse.
Os serventes da festa seguiram o mandamento de Jesus e, por isso o vinho novo foi abundante: 600 litros de vinho! O evangelista quer dizer que não faltará mais vinho; ou seja, até hoje estamos bebendo deste vinho! Enquanto seguirmos o Evangelho (como Maria nos pede), teremos vinho, teremos vida em abundância. As doutrinas que excluem (ou seja, o vinho velho) devem acabar, esgotar para inaugurar o “Novo”, o “Evangelho” na vida das comunidades.
Que saibamos ouvir o pedido de Maria na festa de Caná! Amém!
Ouça no Podcast Ignatiana [link]
Simone Furquim Guimarães é mestre em Teologia na linha bíblica. Tem experiência na área de Leitura Popular da Bíblia no Centro de Estudos Bíblicos (CEBI/Planalto Central).
Esta reflexão bíblica foi originalmente apresentada no Programa de Justiça e Paz, produzido pela Comissão de Justiça e Paz da Arquidiocese de Brasília, que vai ao ar todo sábado, às 11:00, na Rádio Nova Aliança.
Desde outubro de 2020, também disponível no podcast Ignatiana.
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IGNATIANA é um blog de produção coletiva, iniciado em 2018. Chama-se IGNATIANA (inaciana) porque buscamos na espiritualidade de Inácio de Loyola uma inspiração e um modo cristão de se fazer presente nesse mundo vasto e complicado.
