Mundo da Criação

Simone Furquim Guimarães

A leitura do Evangelho hoje é Jo 3,13-17. É continuação da conversa entre Jesus e Nicodemos sobre vários temas, dentre eles sobre a fé e a vida em abundância. Nestes tempos de desequilíbrio climático em que vivemos, essa conversa será densa de ensinamentos para reflexão diante da nossa situação de vida hoje, que está em colapso e também de inspiração para nossa ação e missão cristã.

Jesus disse a Nicodemos:

Do mesmo modo como Moisés levantou a serpente no deserto, assim é necessário que o Filho do Homem seja levantado, para que todos os que nele crerem tenham a vida eterna. Pois Deus amou tanto o mundo, que deu o seu Filho unigênito, para que não morra todo o que nele crer, mas tenha a vida eterna.

Desse texto, percebemos que a temática sobre a fé está repetida várias vezes, por meio da expressão “crer”, “acreditar”, que é um verbo de ação. Isto implica entender que a fé não está somente no campo da certeza da existência de Deus, de Jesus; mas é uma atitude de compromisso, de engajamento, de fidelidade ao seu projeto. O povo no deserto precisava continuar mirando para a serpente de bronze erguida por Moisés para continuar a sua travessia. O mirar aqui no texto significa ter fé.

 Fé é atitude, é estarmos em missão assim como Jesus esteve neste mundo, quando Deus o enviou:

Deus enviou o seu filho ao mundo, não para que julgasse o mundo, mas para que o mundo fosse salvo por meio dele.
(cf. Jo 3,17)

O verbo “enviar” está no grego traduzido como “apóstolo”, que significa “mensageiro”. As comunidades cristãs do Evangelho de João entenderam que elas também são apóstolas, são mensageiras do Evangelho. Todos/as nós também que cremos somos apóstolos/as, uma vez que agimos, conforme os ensinamentos de Jesus.

Neste texto temos dois significados do termo “mundo”: o mundo hostil e o mundo da criação.

Assim como Jesus, nossas ações devem ser de enfrentamento a este mundo hostil, que aqui no texto, diz respeito ao mundo dominado e (des) governado pelo império romano: mundo de desigualdades sociais e de miséria crescente; de perseguição e opressão em nome do “deus” moralista e do “deus” dinheiro, do “deus” mercado; mundo que está destruindo nossa casa comum: o Planeta Terra, porque privilegia mais o ter do que o ser: ter mais capital, acúmulo de riquezas, do que promover a vida em abundância, que é vida com dignidade para as pessoas, vida com saúde. Com as queimadas espalhadas por várias regiões do Brasil afirmamos que são sequelas deste mundo hostil. 

Mas, ao contrário deste mundo hostil, o texto vai revelar o amor ilimitado de Deus por toda a sua criação:

Deus amou tanto o mundo… para que tenha a vida eterna.

O amor de Deus quer trazer salvação para sua criação, isto é, vida em abundância para todas as criaturas (Jo 10,10). Cabe a nós crermos neste amor e agimos para que isto aconteça. Nós cremos neste amor?


Ouça no Podcast Ignatiana [link]

Simone Furquim Guimarães é mestre em Teologia na linha bíblica. Tem experiência na área de Leitura Popular da Bíblia no Centro de Estudos Bíblicos (CEBI/Planalto Central).


Esta reflexão bíblica foi originalmente apresentada no Programa de Justiça e Paz, produzido pela Comissão de Justiça e Paz da Arquidiocese de Brasília, que vai ao ar todo sábado, às 11:00, na Rádio Nova Aliança.

Desde outubro de 2020, também disponível no podcast Ignatiana.

Sábado. Exaltação da Santa Cruz. Ano B

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IGNATIANA é um blog de produção coletiva, iniciado em 2018. Chama-se IGNATIANA (inaciana) porque buscamos na espiritualidade de Inácio de Loyola uma inspiração e um modo cristão de se fazer presente nesse mundo vasto e complicado.

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