A vida é maior do que o Templo

Simone Furquim Guimarães

A leitura do Evangelho hoje é Lc 6,1-5. Jesus proclama uma Boa Nova: a vida é maior do que o Templo com suas normas e doutrinas.

Nos quatro Evangelhos percebemos que Jesus enfrenta as autoridades religiosas de seu tempo porque estas propagam preceitos muito pesados para os fiéis cumprirem. Sabendo disso, conforme nos relata Mateus, Jesus exorta o seguinte:

Vinde a mim, todos os que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração; e achareis descanso para a vossa alma. Porque o meu jugo é suave, e o meu fardo é leve.

cf. Mt 11,28-30

No texto de hoje, os fariseus entram em conflito com Jesus porque ele e seus seguidores não seguem a norma do descanso no dia de sábado, conforme prescrito na Lei (cf. Ex 34,21). Seus seguidores estavam colhendo e debulhando as espigas de trigo com as mãos.

Jesus desconstrói a leitura fundamentalista da Lei, pois tem sabedoria; sabe que a Lei deve vir para produzir vida e dignidade de vida.

Trazendo para os dias de hoje, em nossa comunidade e sociedade, as leis que estão estabelecidas são aplicadas para promover vida?

O texto de hoje está em consonância com o lema do Grito dos Excluídos, neste 7 de setembro:

Jesus se importa! Por isso, os 4 Evangelhos apresenta Jesus peregrinando nas periferias existenciais e geográficas da Galiléia; e percebendo que os religiosos de seu tempo estavam excluindo essas pessoas do plano de Deus. No texto de hoje, Jesus cita o próprio rei Davi como referência do agir: “Davi entrou na casa de Deus, pegou dos pães oferecidos a Deus e os comeu, e ainda por cima os deu a seus companheiros. No entanto, só os sacerdotes podem comer desses pães”.

Jesus desconstrói a interpretação fundamentalista da Lei e nos mostra o bem maior que Deus quer para todos nós, que Deus quer que aprendamos para aplicar em nossa vida, na vida com nossos irmãos. Nessa mesma passagem, o Evangelho de Mateus (Mt 12,7) acrescenta uma profecia para dizer o que verdadeiramente é da vontade de Deus: “Misericórdia que eu quero e não sacrifício, conhecimento de Deus mais do que holocaustos” (cf. Oséias 6,6).

Hoje, muitos “fariseus de plantão” interpretam leis para condenar e excluir as pessoas. Por isso, cabe a nós um olhar crítico e evangélico. Saber que as normas, as leis são importantes para organização de nossa vida, tanto particular como comunitária, mas elas devem vir para produzir dignidade de vida para todos, sem exceção. Este é o amor evangélico (misericórdia); esta é a essência para nós cristãos.

Sejamos seguidores do Nazareno e, com o agir profético, gritemos juntos com os excluídos e as excluídas neste 7 de Setembro: “Todas as formas de vida importam, mas quem se importa?”.


Ouça no Podcast Ignatiana [link]

Simone Furquim Guimarães é mestre em Teologia na linha bíblica. Tem experiência na área de Leitura Popular da Bíblia no Centro de Estudos Bíblicos (CEBI/Planalto Central).


Esta reflexão bíblica foi originalmente apresentada no Programa de Justiça e Paz, produzido pela Comissão de Justiça e Paz da Arquidiocese de Brasília, que vai ao ar todo sábado, às 11:00, na Rádio Nova Aliança.

Desde outubro de 2020, também disponível no podcast Ignatiana.

Sábado da 22ª semana do Tempo Comum, ano B

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IGNATIANA é um blog de produção coletiva, iniciado em 2018. Chama-se IGNATIANA (inaciana) porque buscamos na espiritualidade de Inácio de Loyola uma inspiração e um modo cristão de se fazer presente nesse mundo vasto e complicado.

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