Joio e trigo

Simone Furquim Guimarães

A leitura do Evangelho hoje é Mt 13,24-30, que trata da parábola sobre o joio e o trigo.

O Evangelho de Mateus foi escrito pensando na comunidade de cristãos e de cristãs que se formara e que era constituída de pessoas vindas do judaísmo e de outras religiões; foi escrito pensando em animar e orientar a igreja para a missão, inclusive diante dos anseios e desafios de seu tempo. Por isso, é considerado pelos primeiros padres da igreja nascente como o Evangelho mais completo e organizado.

No capítulo 13, Jesus está em missão pela Galiléia e profere aqui 7 discursos; são 7 parábolas para falar do Reino dos Céus.

Na parábola sobre o joio e o trigo, Jesus ensina que eles devem viver e crescer juntos até o tempo da colheita. Na colheita, primeiro será colhido o joio, depois o trigo e este será recolhido no celeiro.

Fomos acostumados a entender que o celeiro é o Reino dos Céus, que está preparado para nós, e que este acontece somente no fim dos tempos, para acontecimento no futuro. Mas a comunidade de Mateus nos surpreende, pois nos mostra que o Reino acontece agora. Jesus já havia anunciado: O Reino dos Céus chegou!

É importante compreender que quando Jesus ensina em forma de parábolas, nos dá exemplos simples, fala de campo, de colheita, mas não é de fácil entendimento. Somente os pequeninos compreendem. Compreendem porque já vivem o Reino dos Céus em suas vidas: aprendemos com os pequeninos a prática da solidariedade, o apoio mútuo e a luta por justiça.

Olhar o Reino dos Céus como algo a ser conquistado para o futuro é perigoso, pois, na nossa vã ideia, podemos querer arrancar tudo que achamos ser joio para viver na pureza e na perfeição, como os fariseus faziam, pois se consideravam perfeitos e excluíam a multidão do plano de salvação de Deus.

A parábola nos ajuda a enxergar a presença de um Reino na própria história humana, no meio do conflito, das perseguições dos governantes romanos e da liderança da religião judaica. A história humana é o campo. E neste campo já temos os frutos do Reino: são todos e todas que lutam por justiça social. O Evangelho de Mateus é considerado o Evangelho da Justiça, da Justiça do Reino.

Por isso, pensar o Evangelho de Mateus nessa moldura de se viver como igreja é importante porque estamos também pensando em nossa vivencia como igreja em nossa realidade, nas nossas paróquias, nas nossas comunidades. Devemos ser discípulos e discípulas que constrói e vive o Reino desde agora.

Que nossas igrejas aprendam a viver o Reino dos Céus em cada comunidade, produzindo bons frutos, que cresçam e espalhem no campo da história. Amém!


Ouça no Podcast Ignatiana [link]

Simone Furquim Guimarães é mestre em Teologia na linha bíblica. Tem experiência na área de Leitura Popular da Bíblia no Centro de Estudos Bíblicos (CEBI/Planalto Central).


Esta reflexão bíblica foi originalmente apresentada no Programa de Justiça e Paz, produzido pela Comissão de Justiça e Paz da Arquidiocese de Brasília, que vai ao ar todo sábado, às 11:00, na Rádio Nova Aliança.

Desde outubro de 2020, também disponível no podcast Ignatiana.

Sábado da 16ª semana do Tempo Comum, ano B

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IGNATIANA é um blog de produção coletiva, iniciado em 2018. Chama-se IGNATIANA (inaciana) porque buscamos na espiritualidade de Inácio de Loyola uma inspiração e um modo cristão de se fazer presente nesse mundo vasto e complicado.

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